Os objetos não cabem nos dias
Os objetos não cabem nos dias, suas bordas deslizam pelos corredores da claridade — na superfície assustada de um planeta que hoje sabemos ser minúsculo; os objetos nomeiam os dias (com sinais estreitos, sempre); os objetos — transpirando — situam os dias em algum lugar do desejo: aqui onde ninguém respira bem. * Soltamos outra sede Soltamos outra sede para perturbar a apatia imposta aos dias; crepitando, uma fenda -- manhã multiplicada — agora sim nos infinda: afeto atrai fala (e fala faz faísca). * Pulsações propagam Pulsações propagam o corpo — expandindo suas premências, experimentando novas impossibilidades — de um lapso a outro: a carne (isso, a carne) é parte do sopro. * Aprenderemos a descansar os olhos na água Aprenderemos a descansar os olhos na água (entre novas fissuras). A calma — apesar de tudo há calma — quase abranda o calor. Pedras prensadas contra o brilho daquela manhã ali, respirando dentro de alguma fala. O dia é obrigado a se abrir: aprofundamos sua fome. Com as pupilas eletrocutadas. * Um rosto nasce em torno da voz Um rosto nasce em torno da voz, embrulho que atiro na areia ou levo até a água (que lanço da janela ou arrasto pela calçada); este é o rosto que atrai a cidade, os tentáculos da cidade — aprimorando, sem se satisfazer, os primeiros impactos da manhã. (Da manhã: desfiada sobre o asfalto?) Você fala: você suspende o oceano (e não só a surdez; você suspende o oceano) movendo o maxilar.
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
Histórico
Fevereiro 2021
|