Três poemas inéditos de Sofia Ferrés

A Terra, cansada, de noite
quantas noites lhe falta?
quanta luz corresponde
e me cabe nas pupilas

os nervos, sempre atentos
à demora do destino
os anos passam
ferem os meses

dormimos e acordamos  
no teu ventre, Terra.

A Terra, cansada
acumulada de noites
atenta à demora sempre
dos anos que passam e
ferem o destino,  
devagar

quantos rezam?
no escuro para chegar ao dia
para chegar mais cedo
ao teu ventre, Terra.

onde estão teus seres
que ainda há pouco
aqui viviam

no escuro do olho fechado
que não lhes entregou  
o sonho dos acordados:
apenas o sonho do medo:
conversa baixa
em tom gelado

chegarão para nos acudir:
juízes bons, mãos amadas,
refugiados de lugares dentro
até que de manhã  
o olho abra e ilumine o quarto


*


sem sequer chegar a vê-la
vem do centro: a Verdade
a liberdade primeira
a conduta elétrica do coração

a caixa torácica como capela
do milagre sistémico, o ritmo
tem a beleza de um Sim:
o Amor é um Sim


*


um impedimento dentro  
algo que sempre faltou
quanto mais se revela
mais se enraíza

a superfície se polariza
o viajante é caseiro
o corajoso sente medo
a única medalha é triste

viver espreita a morte
repare:
nosso maior orgulho  
é uma dor

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