Quatro poemas de Kathrin Bach traduzidos para português por Mafalda Sofia Gomes (SpiegelZWei #1)18/3/2021 SpiegelZwEi é um projeto de Mafalda Sofia Gomes em que se estrelam dois ovos na frigideira, a nova poesia de língua alemã e a respetiva versão portuguesa. Juntos resultam numa experiência gastronómica intensa. Guten Appetit! Kathrin Bach, nascida em 1988 em Wiesbaden, estudou Escrita Literária em Hildesheim. Recebeu o segundo prémio no concurso Lyrikpreis München 2014 e foi finalista da 22ª edição do open mike. Publicou em diferentes revistas e antologias, como Jahrbuch der Lyrik 2015, Akzente, manuskripte e Lyrik von Jetzt 3. Em 2017, lançou o livro de poemas “Schwämme” com a editora parasitenpresse (a que pertencem os poemas traduzidos). Depois de uma longa estadia no sul de França, é livreira em Berlim. Quebradiça
perto do lago a pele atinge a máxima transparência no curso da margem ela faz-se abrasiva pinheiros altos erguem-se em toda a sua extensão rochas deformam-se ela está deitada neste terreno como se em suor um corpo dormisse cobre o solo aquilo que dele sobressai cobre o abrigo de madeira em forma de cubo os pulsantes caminhos que levam à construção das formigas se vou à torneira se me deito de bruços no soalho atravessada nos fetos também aqui desempenho um ofício dois grous levantam voo estendem a pele metro a metro nas alturas o seu brado está perto de mim na cama desfeita espera que se aproximem do chão eu deveria ter ficado mais tempo para que as minhas voltas me renovassem a pele // Morsch am See ist die Haut an ihrem glasigsten Punkt zum Ufer hin raut sie sich zusammen lange Tannen richten sich auf Felsen beulen sich an ihnen entlang sie liegt auf diesem Gelände wie auf einem im Schlaf schwitzenden Körper bedeckt den Erdboden was aus ihm ragt bedeckt den holzigen Würfel Hütte die pulsierenden Wege zum Ameisenbau ob ich zum Wasserhahn gehe ob ich mich bäuchlings auf die Dielen lege quer durch den Farn hindurch gehe ich auch hier einer Arbeit nach zwei Kraniche fliegen auf dehnen die Haut Meter für Meter nach oben ihr Rufen liegt neben mir im ungemachten Bett wartet auf den Sinkflug ich müsste länger bleiben damit meine Gänge die Haut umschichten * Dolny os barulhos que eu ouço vêm de ti tu coças-te na barriga tu tosses brevemente tu fazes balançar a rede do centro para fora tu entornas água do teu copo tu bebes tu moves a cadeira um nada para a esquerda tu aclaras a voz vais à casa-de-banho dizes uma palavra uma segunda ris os barulhos guiam-me na cabana como numa cidade tu mostras-me água, cama, os poucos degraus e quando a casa crepita de vez em quando paralela ao ritmo das maçãs ao cair olho imediatamente para ti // Dolny die Geräusche die ich höre kommen von dir du kratzt dich am Bauch du hustet kurz du bewegst die Hängematte aus der Mitte heraus du schüttest Wasser in dein Glas du trinkst du versetzt den Stuhl einen Tick nach links du räusperst dich gehst ins Bad sagst ein Wort ein zweites lachst die Geräusche führen mich durch die Hütte wie durch eine Stadt du zeigst mir Wasser, Bett, die wenigen Treppenstufen und wenn das Haus alle paar Stunden knackt parallel zum Rhythmus der runterfallenden Äpfel schaue ich sofort zu dir * Regatos a decisão de olhar para a esquerda ou para a direita escolher cisnes ou casinhas casas espaços vazios um lago e que percentagem desse lago desfilar ver as imagens na cabeça a tua meia cabeça escolher a parede ou janelas cortinas abertas ou fechadas o comboio que parte a paisagem os campos de cultivo a partir daqui posicionam-se do teu lado esquerdo escolhem a tua mão esquerda meia embalagem de farinha espalha-se na minha mão imagina-se nesta cama na minha cabeça falar com a tua meia língua o seu oscilar a tua meia cabeça uma das tuas pernas o teu braço uma linha que começa a dobrar-se escolher o rio uma porção do rio uma planície pousada na quietude que eu vejo de todos os lados as tuas duas metades debaixo do tecto e o momento em que se fundem // Rinnsale Die Entscheidung nach rechts oder links zu schauen sich für Schwäne entscheiden oder Häuschen Häuser Leerstand ein See und wie viel Prozent von diesem See die Bilder im Kopf vorbeiziehen sehen dein halber Kopf sich für Wand entscheiden oder Fenster für Gardine auf oder zu der Zug der die Landschaft teilt die Äcker von hier aus sich links neben dich stellen sich für deine linke Hand entscheiden ein halbes Paket Mehl das sich in meiner Hand löst sich in dieses Bett denken in deinen Kopf mit deiner halben Zunge sprechen ihr Schlingern dein halber Kopf dein eines Bein dein Arm eine Linie die sich zu krümmen beginnt sich für Fluss entscheiden für ein Stück von dem Fluss für eine still gelegte Fläche die ich von allen Seiten betrachte deine zwei Hälften unter der Decke und der Punkt an dem sie zusammenführen * Ocre um campo outro campo, feno rolos de feno como se alguém tivesse atirado de cima bolas de boccia um trator que parece cada vez mais pequeno um escaravelho rastejante procura água, poiquilotérmico, o único ponto negro no desmesurado ocre rasteja da imagem um dia tão seco que os pássaros desfazem-se no ar a minha perspetiva que não cessa de cercar o terreno a não ser isto, nada se move // Ocker ein Feld noch ein Feld, Heu Heuballen als hätte jemand von oben Boulekugeln geworfen der Traktor der immer kleiner wird ein nach Wasser kriechender Käfer, hitzestarr, der einzige schwarze Punk in einem riesigen Ocker kriecht aus dem Bild ein Tag so trocken dass Vögel aus der Luft bröckeln mein Blick der das Gelände immer wieder umzäunt sonst bewegt sich nichts
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