asas
fingi doçura porque era assim acalmar o pai daí ele me trouxe uma janela claro que era uma moldura vazada mas havia uma cidade eu não queria morar eu não queria mais morar que suado o chão onde eu escorrego acho que está chegando acho que está perto que bom ah havia uma cidade impossível logo era uma janela eu perguntei com alegria sincera pra mim ele disse coitado todo contente sim sim imitando aquele filme eu perguntei é de comer querendo ser uma menina numa história mas logo emendei é de me comer e fiquei bem séria ele riu ainda mas já sem dizer sim sim já sabendo onde as histórias vão dar já branco e me olhando com as velhas agulhas eu perdi o rosto e insisti com a voz masculina que eu sei ter é de me comer ele sério eu fiz de novo cada vez mais de pedra é de me comer ele quis chamar alguém e não fazer nada ao mesmo tempo pobrezinho gostava mesmo de mim que pena ele me olhava medindo tragédias que pena eu realmente já não ligava os meus poços salobros nos pulmões já não ligavam inertes inertes que pena eu disse marinha com o útero de homem é de me comerrr arrotando naufrágios e ele viu que a loucura era sem volta tremeu mais de amor que de medo salina a existência que pena era o cianótico balbucio a forca era há muito e agora eu dava finalmente os sete passos para organizar os ossos um para organizar a aura destroncada dois para clicar o derradeiro sentido três era já sem volta quatro que alívio cinco que exato alívio embora abaixo do meu ouvido ainda rumorejasse um amor ah sim uma pessoa ah sim seis papai querendo me segurar pelo braço eu já menina de novo o alívio tão exato eu já com laços e doces e hidrocores gastos mas ele não entendia e me segurava pelo braço era inútil que pena deve ter doído nele deve ter doído mais nele porque era burro e não entendia em mim doer era na pele que eu não conseguia arrancar atrás do pescoço doer era transitar doer era estar doer era saber doer era ser sete ainda por que ainda pa pai me deixa ir que se eu desligo a luz dói tanto sinto medo desliga pra mim desliga pra * ir cravar os dentes no pescoço deste intervalo, ser içada pela roldana do tempo e desistir de segurar o mar entre as mãos – (guelras) já nem as tenho. * "Pedrada!", e era um caminhão atropelando um filhote fugitivo, seis rodas (oito? dez?) liquefazendo um recheio invisível (cruel como a vida), doze anéis de tempo para esfacelar irrecuperável o bicho decalcado da primeira mão, era uma carta, minha, de amor, ("Foda-se.", dizem os dias no contínuo bélico), e deceparam-me todas as letras de um já impossível futuro, falanges verticais, (na versão oficial virá: suicídio), colhe a estrada os meus dedos em amontoado tamborilar sobre o próprio charco – sim, Senhores (catorze? dezesseis?), s a n g u e (olhos hipnóticos: não há eternidade é a burra e altíssima descoberta coletiva; quis ainda dizer: "o nada, o nada, o nada" em guturais e a voz já não subia senão no grito trançado de ódioagoniapavor) –, "Pedrada!", e voam pássaros do meu peito, é feia a asfixia (saltam olhos, língua, gases), dezoito rodas para me mutilar os ossos tão pequenos (batem desesperadas as asas do que eu era), vinte e duas rodas para me desmembrar o caos em besouros e vermes – chamariz; viriam, sim; lento é sobreviver –, (tortura coitos com bicos alucinados a já não mais minha ensandecida revoada) trinta e tantas para, (barulho barulho barulho de torres) vejam só, me fazer chorar. "Pedrada!". E golfa a raiz das coisas um sangue negro de vísceras – pura graxa, o meu passado (o teu também, vício de garganta: bebo ambos, igualmente intoleráveis) –, verte sóbrio o cuspe podre da minha doença insidiosa, a víbora!, veneno excessivo da maçã irrevogável dos dias (trazemos insuspeitadas as feridas, açoitados todos nós pelo tempo e pelos baús indevassáveis). * a afundar um recorte de tábuas (so bri e da de) – um prenúncio de peixes calça e vacila o atrito de hastes que engendra um eixo; __________ deslizam agora, pensamentos e vísceras deslizam agora, escorregam inventando os braços no ar como se um dia alguém tivesse sido realmente uma criança num parque; lubricidade (olhares trocados numa praça ou lsd sonoro) desesmaece, as cores brilham sua fertilidade irreversível, qualquer coisa dança dentro e parece até que morrer não era ainda, não tão ainda, antes o eu desperdiçado no caos depositando seu gozo lento e infinito sobre pupilas finalmente anônimas, começadas de mar. * Substância Haverá uma palavra partida para dar conta não daquilo que nos cobre, mansidão loira de amar, mas do que nos resseca desde o espírito: o animal iniciático. O estalido brusco do corpo: que -rer.
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Fevereiro 2021
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