Porque era dia dos pais quis que não chovesse naquele dia.
Quis todos os ipês floridos porque era dia dos pais. Do sol pensou o amarelo bem forte tal qual ele fazia quando criança, porque era dia dos pais. Naquele dia quis as mãos dele que eram iguais às suas. Não desejou ganhar presentes encomendados, pré-fabricados, disfarçados de amor porque era dia dos pais. Quis apenas chegar na janela, admirar a hora, o dia e jogar conversa fora. Mas amanheceu chovendo. Chuva fina, chorosa, naquele dia dos pais. E embora a janela estivesse lá e ele frente a ela, estava só naquele dia. O filho lá não estava mais e faltou dizer a ele o quanto o amava não só porque era dia dos pais. Faltou colocar sua mão sobre a mão dele e viver a completude entre as duas. Faltou deixar-se beijar, pois dizia sempre que homem não beijava outro homem. Faltou apertá-lo contra o peito. quando ambos tinham algum problema, e se deixar esquecer até dormir. E faltou chorar também, afinal eram meninos e meninos não choravam. Até que o filho se foi um dia. E ele ficou indignado com as pessoas caminhando normalmente pelas ruas da cidade. Algumas até riam, destilavam alegria. Os carros seguiam com suas buzinas estridentes. Freio, só pra ele, que parou e então percebeu o amarelo do sol, percebeu os ipês coloridos, percebeu o céu. Percebeu a nuvem, feito naquele dia dos pais, quando se misturou com a chuva pra esconder a lágrima que escorria do céu. Chorando, ele observou um avião e lembrou-se de que era o que mais o filho gostava de fazer quando criança.
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Histórico
Março 2021
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