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"Poesia de Angola em tempo de balanço" - recensão a 'Meaidade' de Carlos Ferreira, por Francisco Topa

4/3/2019

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FERREIRA Carlos (2017). Meaidade. Luanda: Caxinde.

Se a propalada lusofonia funcionasse verdadeiramente, seria dispensável apresentar Carlos Ferreira, o poeta e a sua circunstância. Não sendo assim, importa dizer que o autor estreou em livro em 1982, num volume intitulado Projecto Comum (“treze letras”, como diz numa canção), tendo uma carreira literária que conta já três décadas e meia e dezena e meia de livros, maioritariamente de poesia, mas também de crónicas, de letras de canções e de recolhas de textos de outros autores. Aliando a atividade poética ao ofício de jornalista – com uma longa passagem pela rádio –, Carlos Ferreira destacou-se desde cedo como exemplo de militância cívica, o que lhe tem valido dissabores bem percetíveis nesta “Auto-biografia” em forma de letra de canção: “Em sessenta nasci/ filho de amor proibido/ mistura tonalidades doçura/ escola piano escrequenha/ no cubico muita ternura// e o calazans na cadeia/ jacinto luandino liceu/ tantos anos sementeira// Me puseram no mundo/ em fevereiro de agadir/ sou peixes nadei na samba/ ao pé do velho custódio/ que só soube o que era ler/ no vinte e cinco da loucura/ não esqueci a ditadura// mas conheci a liberdade/ nas asas de gorki soeiro e amado/ pasolini costa gravas allende/ na morna da fome – proibida/ meu pé de laranja lima/ na rumba no semba/ na umbigada e no fado// sartre gide e aragón/ makeba masekela osibisa/ alda arnaldo viriato/ musonguês muitos copos/ muitos papos/ no caminho atribulado de novembro/ nessa picada/ que me fez lembrar que foi de abril/ meio kalú meio mundo a aprender// meu hino ainda diz avante/ meu bilhete popular/ trinta e nove de caminho/ da maianga meu destino/ à ilha do meu desatino/ sofia rosa minha canção/ bélita palma minha paixão/ ana maria do meu coração/ a vida me atirou/ aos pés de um antiga crença/ igualdade/ ao som de kituxi/ beethoven renascido com manguxi.”[1]

Dezanove anos se somaram entretanto aos “trinta e nove de caminho”, mas o essencial das referências literárias, filosóficas, musicais, cinematográficas manteve-se por certo, à semelhança do que terá acontecido no plano das crenças políticas: “meu hino ainda diz avante”. Também é de caminho – esse “caminho atribulado de novembro” – que nos fala Meaidade, livro que desde o título parece anunciar um balanço, pedido pela meia idade e, sobretudo, pela mea idade. Não se trata pois de um mero jogo de palavras inconsequente, mas do equilíbrio difícil num exercício sempre duplo: entre a metade e o todo, entre o pessoal e o coletivo, entre a reivindicação mais ou menos eufórica do mea, minha, e a desilusão contrita do mea, illorum culpa (culpa deles). O guia de Carlos Ferreira parece ser Dante Alighieri, que nos versos de abertura de Inferno, a primeira parte da sua La divina commedia, escreveu: “Nel mezzo del cammin di nostra vita/ mi ritrovai per una selva oscura/ ché la diritta via era smarrita.”[2]

A vertente de balanço do volume é inequívoca e contempla antes de mais uma dimensão vivencial e pessoal: “Degolo-me por dentro/ a avidez do quanto era belo/ desapareceu depois dos cinquenta/ começo a contar os mortos” (p. 54). A dobradiça e o espelho são duas das metáforas a que o poeta recorre para esboçar um retrato marcado pelo desalento: “Cada vez mais pareço com as velhas dobradiças. Só que as minhas não têm retorno à juventude. Fecho-me. Encolho-me. Nada é grátis a não ser o olhar de relance ao espelho. E mesmo esse me aponta o dedo. Pergunta-me pelas nossas consciências. Pela nossa cegueira. Pelo nosso silêncio.” (p. 61) Noutros momentos, o sujeito passa para o lado de dentro do espelho, partilhando com ele o nada da visão, não tanto de si – o que o aproximaria do Jacobina do conto de Machado de Assis – mas sobretudo dos outros e do mundo: “Confundo-me com o espelho/ Há um velho cansaço de ver nada” (p. 37). O abatimento pode chegar também do olhar para fora que revela o caráter autofágico do tempo: “Na janela onde as vidraças quebraram/ eu amarro o futuro// apago na borracha dos dias o que foi o meu passado” (p. 53).

Um dos motivos mais recorrentes da obra é a definição de um eu por confronto com um coletivo: “Paralítico em voo cruzado/ ingénuo rafeiro sem males/ fumaça de dor sem nome/ na negação do vosso dia a dia” (p. 26). Um coletivo que já foi de companheiros: “A memória/ é o desfile antigo/ dos companheiros adiados/ pelo excesso de silêncio” (p. 33); e se torna agora difícil de compreender: “como este ódio esta vingança/ se os relógios batiam a mesma hora” (p. 31). O tempo tornou-se pois demasiado longo, o que leva o sujeito a perguntar: “Quantos/ séculos/ tem/ a nossa/ idade?” (p. 34). A ideia da circularidade do tempo conduz à descrença, que a falta de pontuação permite que cada um doseie de modo diferente: “Chega o tempo fechado o círculo das/ andorinhas entornado o musonguê/ escondida a sede toda de fraternidade” (p. 39). O referente é geralmente abstrato, mas por vezes identifica-se explicitamente com o país, o “meu país de mim” (p. 43), num diálogo subtil com o moçambicano Eduardo White.

Mas apesar da “selva oscura” deste inferno, surge por vezes uma indecisa esperança numa espécie de redenção, sinalizada, por exemplo, pelo condicional: “Bastaria a fonte/ a água/ o murmúrio a verdade// o fim da comédia” (p. 25). Noutros momentos há mesmo uma proclamação explícita de resistência: “Hoje/ no ano de dois mil e treze/ existo/ insisto/ não desisto.” (p. 80).

Mas é sobretudo a afirmação da força da poesia que estabelece um contraponto com a visão disfórica que domina o livro: “A verga já verga/ mas a verve ferve” (p. 55). De facto, se há momentos em que, reinventando o aforismo de Descartes, o sujeito afirma “escrevo e logo morro” (p. 88), prontamente anuncia, no mesmo poema, a “suprema ironia da vida/ esta de ter amado a escrita/ para voltar a nascer.” (p. 88). De uma outra maneira é o que sugere também o texto “O poema veio à rua”, espécie de réplica ao famoso “Poema da alienação” de António Jacinto: “O poema veio à rua/ fez manguitos/ vendeu trapos/ xingou na mãe que o pariu/ a marca do sofrimento” (p. 29).

Talvez por isso, o livro termine com uma série de textos dedicados a figuras maiores da literatura angolana, de Agostinho Neto (“a ténue malha do resgate será/ tecida por mãos secas de implorar (…)”, p. 105), Luandino Vieira (“de lágrimas enxugadas/ como ponte de gerações”, p. 106) ou Mário António, até Manuel Rui, Pepetela e vários outros.

Em suma, se é mais forte a marca política deste livro, se é mais desalentada a visão dos outros, do mundo, de si que ele nos apresenta, é o mesmo o Carlos Ferreira que ele nos dá: o poeta militante e resistente, “só mais atento” (p. 100), o poeta das causas perdidas, como lhe chamou Francisco Soares, fiel aos temas de sempre – o amor; os outros; o mar, cada dia mais escasso (“asfaltam todos os dias os meus mares”, p. 78); a poesia; a língua. Explorando os limites do verso, abdicando da ditadura da pontuação, valendo-se da imagem inesperada, Carlos Ferreira pede a nossa colaboração de leitores nesta proclamação de que a poesia está viva em Angola e é livre, como sempre foram a verdadeira poesia e os verdadeiros poetas.

[1] Datado de 1989, o texto está incluído em Memórias de nós: (1980-2012) – trinta anos de canções. Luanda: UEA, 2013, pp. 97-98.

[2] Tradução de Vasco Graça Moura: “No meio do caminho em nossa vida/ eu me encontrei por uma selva escura,/ porque a direita via era perdida.” (Vasco Graça Moura. A Divina Comédia de Dante Alighieiri. 2.ª ed. Venda Nova: Bertrand, 1996, p. 31).


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