no leme sempre amanhece mais cedo
o sol da noite penetra o concreto velho os novos pobres os sempre esquecidos resquícios da festa do ontem de hoje as ruas emudecem e eu emudeço para escutar o riso triste da travesti arco de um triunfo invisível pelo tempo na batida inconsciente do pelourinho isso tudo já foi mar olha a maresia leme livro amarelado eu sem camisa arrebitada corria para um sorriso alegre e uma morte em paz para esquecer teus dentes imperfeitos de mulher macia e perfeita agora tudo é água sinto o peso das lágrimas e o sal dentro do meu ventre sinto o peso do futuro porque as ondas sempre me fazem voltar para a areia fria e quente areia leme esplendor * dos perigos da vida: andar no meio-fio metonímia metáfora todas as figuras de linguagem unidas por um fio entrar no mar de copacabana à noite comer uma mentos e depois beber coca-cola usar lsd trair o namorado a janis joplin continuará cantando baby e apocalipse now está passando na tv me jogo do meu apartamento (22º andar) último perigo da vida (everything was very very calculated sweetheart keep calm and listen to janis) tentei ser hippie só consegui ser hipster última aventura let’s go * duas tatuagens escorrendo pelos braços e dois olhos gordos. tão gordo, que pareciam desejar sair do rosto magro da vendedora magra. quero sorrir com você mais vezes. uma espanhola olhando os livros de drummond. não tenha medo de mim, eu também leio poesia. você diz não me achar sexy. você não me acha sexy. quero o divórcio, mas nem perguntei teu nome. remorso é um arrependimento para dentro. aquele nariz pontudo era tão bonito quanto a face jamais vista da menina que estava na gare d’annecy. as última vinte e quatro horas passaram igual a um tgv. tudo é leito de rio. à noite, vou colocar meus óculos escuros e me masturbar. não posso esquecer de tomar o anticoncepcional. as últimas vinte e quatro horas passaram igual a um tgv. tomo um aperol spritz. tudo é leito de rio. * desenhava asas de anjos no jornal a foto mostrava uma pessoa caindo pela janela às vezes as pessoas voam as pessoas às vezes voam e o cheiro enjoativo de pão e café os miolos de pão no canto do prato da minha mãe edifício joelma 1974 tão grande tão baixo o céu a pegar o fogo que esquenta o café e o cheiro enjoativo de pão e café rádio em são paulo 23 graus * teu dente de ouro é metonímia para o seu sorriso amarelo. você é feliz. você vê a vida voando baixinho, como uma ave a procura dum peixe no mar. meu braço esparramado pelo chão é praia, deserto consolado. as mulheres de véu preto com os pés fincados (os pés fincados, os pés fincados) na areia a espera do amor. de todas as possibilidades, a mais feia e incerta, mas seu sorriso sob o sol sobe a minha face de tão bonito o sol some e a nuvem que nos seus dedos se entrelaça sou eu te amando tentando tirar matéria do que não existe.
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Janeiro 2021
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