(A Francesca Cricelli, que o motivou, e a Prisca Agustoni, que o chamou de poema antes de o ser) Nunca imaginei pensar a vida
como a amarra frágil de um botão numa camisa. Aprender a ver os fios e sua costura, remendá-la ou rebentá-la. Aprender a hora de vestir a casa e a hora de despir-se dela – criar raízes ou ser como folhas ao vento. * diante do espanto performar o silêncio os pés andando em círculos os olhos buscando os detalhes as mãos tateando o vazio * Tento preencher o vazio dos dias com o que me vai surgindo sem que o peça – a espera nunca é ativa, é sempre o outro que não vem, são sempre as coisas, as horas que não chegam, mas entre uma espera e outra algo aparece e vai tomando lugar entre os espaços. São poemas postados alhures, livros que já não acreditava receber, mensagens carregadas de saudade, fotos e vídeos que carregam consigo o riso, a repulsa, a empatia, o choro, um grito de alerta, de alegria ou de dor. Nisso vem uma ideia como uma febre ou espasmo, e o remédio é agarrar o lápis com a mão e deixá-lo percorrer o papel como se as palavras fossem uma extensão de ambos, ou aquilo que a febre secreta para deixar de queimar. Ao fim, o que se esperava não vem, mas isso já nos havia ensinado Godot. * Qual momento a fotografia captura com maior nitidez: o tempo exterior dos relógios, ou o instante íntimo dos afetos? Repouso na tua a minha cabeça, as mãos dispensam o toque, os olhos reluzem como brilha o dia. O que a imagem não revela, mas adivinha, está ali e tem um só nome. * UNA VENTANA ABRE LA NOCHE A LOS OJOS Una ventana abre la noche a los ojos, se hace semilla de las constelaciones habitables de la ciudad que todavía no duerme, y en mi pecho una lluvia de estrellas polvorea de luces las sombras que llenan mi corazón.
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Março 2021
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