Sozinho com o seu trabalho
Ele cavalgou sozinho toda a noite, assustado, impiedosamente esporeando as costelas do seu cavalo. Eles estarão à sua espera, foi-lhe dito, para que viesse sem falta; havia grande urgência. Quando chegou de madrugada, ninguém o esperava, ninguém lá estava. Ele procurou. Casas desoladas, trancadas. Dormiam. Ele ouviu, perto, o seu cavalo, ofegando – espuma na sua boca, feridas nas costelas e as costas laceradas. Ele abraçou-se ao pescoço do cavalo e chorou. Os olhos do cavalo, grandes, negros, moribundos, eram duas torres, as suas, distantes, numa paisagem onde chovia. * Inactividade Como é que vivemos – disse ele – todos estes anos nesta casa. Um quarto mobilado. O corredor escuro. O cinzento, o caruncho, os lençóis gelados. O homem que dormia de costas na nossa cama era um perfeito estranho. As baratas vinham da cozinha para os quartos. Certa noite alguém perguntou por nós à porta. A senhoria disse algo na escuridão (sobre nós, certamente). Mais tarde ouvimos de novo a porta ranger. Nem passos nem fala.
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
Histórico
Abril 2021
|
Proudly powered by Weebly