21/1/2019 0 Comentários Dois poemas de Frederico Klumbos gatos miam se é o que têm de gatos por fazer
as muradas e pneus dos carros, nada disso me incomoda mais. o capinzal eleva-se longe, até o limite das copas no topo do morro e não carrega nenhum desafio. estou só com minhas preocupações noturnas. não são tão importantes quanto achava ontem que seriam. a insônia é a fome dos que não têm fome, melhor a cama quente a um prato frio, eu me digo. no quarto o ventilador treme como um velho espantando a poeira do corpo ou o tempo dos cabelos. não me interessa entender o tempo. algumas pessoas caminham pela orla, sempre atrás de seus passos, sem saber o que esperar dos outros. a lua se desenha fina, ímã e pêndulo impossível para os olhos. tenho muita vontade de conversar com os homens que limpam os peixes. devo continuar andando por aqui, calço sapatos leves e tenho as costas cansadas. hoje sonhei com cavalos em grandes galerias, estalando as cerâmicas nas curvas, correndo muito, como se montassem o mundo. há um pequeno terreiro embaixo, duas crianças jogam cartas em mesas de plástico. nenhum segredo salta das imagens. há muitos anos conheci um homem gago. ele nadava quatro mil metros por dia e era gentil comigo. fico um pouco triste por não lembrar seu nome. e logo passa. * um homem só é um homem. entre essa certeza, única, há a vida. que é ela? o túnel a pedra no meio do caminho? antes de chorar nascemos além da linguagem morremos sós. da vida não se pode dizer.
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Fevereiro 2019
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