O acento agudo no lugar do circunflexo na grafia de António | Línguas
Quero as confissões dos teus pecados escorrendo por entre as minhas pernas e por entre sussurros repetidos do teu nome de santo e quero entradas e saídas, dicotomias por cima – por baixo, encontros penetrantes entre os olhos, derretimentos dos corpos despidos, navegantes, mãos em erupção, câmaras vulcanosas no miocárdio e o sangue-lava borbulhando nos abissais epiteliais e barcos que emergem das profundezas, quero as tuas ênclises profanas como regra, as formas radicais de sussurrar tu entre dentes e as verbalizações emboladas num vocabulário arcaico e os nomes estranhos para dizer das coisas comuns e as literalidades que saem da tua pronúncia chiada e os poemas herdados de Luís, assim mesmo, com esse e todos os esses que cantas, amarrotados num só ruído, quero as palavras que dançam na tua boca, todas as rachaduras lisboetas dos teus lábios e as palavras que pulam na água no último suspiro, afogando-se por nada serem segredando-me que tu achas sonetos demodês, old school deixando-me os despedaços das escamas na orla da praia e os descaminhos das bordas, das tuas bordas que me atravessam as margens, as fronteiras entre a minha pele e a tua, essas palavras, todas elas, sal e embarcação, que flutuam no além-mar, tratado dos cabelos desgrenhados e batons borrados. * Cachimbos, pontes, jardins e pontas soltas Poesia é tudo o que se atreve e atravessa, mais ceci n’est pas une poète, ici il y a seulement une personne, un quelqu’un, trêmulo, entregue, covarde, alguém que não se arrisca, alguém que se esquiva numa dança ridícula com a solitude. A poesia não está por aqui se sonho pés em sincronia, pés sem corpos, rostos inidentificáveis ceci n’est pas une poète ou même une póesie si je dance torrentes imaginárias e imagino o dorso colado a outro que não reconheço, não há poesia para valsas dançadas sós em noites frias tampouco il y a quelque poésie pour les poèmes que j’écris em bocas fazendo ventríloquos vazios ou pour les poèmes que j’ai abandonné dans solilóquios de bolso. Não há poesia, isto aqui não é nem uma poeta, nada disto é sequer uma palavra, é só uma ilusão óptica para a tua miopia, pois bem-me-quer, mal-me-quer, pétala em flor, o que tenho é apenas um sol batendo no olho, um vento gritando na cara.
0 Comentários
Enviar uma resposta. |
Histórico
Março 2021
|