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28/1/2019 0 Comentários

"Os dias negros estão de volta? A história sentimental da cidade adormecida", uma crónica de  Rabi' Jaber (tradução de Joana Gomes e Michel Kabalan)

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Desde pequeno que Rabi' Jaber queria escrever uma obra-prima. Escrever livros, como diz uma das suas personagens, "é como construir pirâmides". Nascido em Ba'aklin (uma pequena cidade do Chouf) no ano de 1972, Jaber estudou Física na Universidade Americana de Beirute. Escreveu o seu primeiro romance, "O Mestre da Obscuridade" (Sayyd-l-'atma, com apenas 20 anos, romance premiado pelos críticos da editora Ar-Rais. Em 1995, Jaber publicou a sua segunda obra, "Chá Preto" (Chai Assuad), que esboça linhas essenciais dos seus romances posteriores. Um ano mais tarde, publica, sob pseudónimo, um novo romance intitulado "Borboleta Azul" (Alfaracha al-zarqa'). No livro "Ralf Riz’allah ao espelho”, publicado em 1998, regressa à técnica dos seus primeiros trabalhos, utilizando histórias verídicas como base para uma elaboração imagética. É essa necessidade de narrar a verdade que leva Jaber a procurar inspiração em livros antigos ou projecções cinematográficas.
Jaber considera que a Escrita é a sua única salvação e, como tal, decidiu retirar-se da vida pública para se dedicar a esta arte a tempo inteiro. Continuando a combinar a realidade histórica com a imaginação, Rabi' Jaber publicou inúmeros romances de inspiração histórica: "Eu fui um príncipe" (Kuntu Amiran) em 1997, "O último olhar para Kin Sai" (Nazra akhira 'alla Kin Sai) de 1998, "A viagem do granadino" (Rehlat al-Gharnati) de 2002 e "Beirute, cidade do mundo" (Beirut, madinat al’Alam) em 2003. Grande parte destes romances tem como pano de fundo a Guerra Civil de 1840-1861. Apesar do pessimismo ser uma constante nas suas obras, é possível entrever de vez em quando um sorriso na evocação da Infância.
Em 2005, é publicado "Beritus, cidade subterrânea" cuja estória versa a existência de uma Beirute construída e habitada sob o solo como alternativa à Beirute da superfície, constantemente assolada pela Guerra. Ainda no mesmo ano, Jaber publicou "Relatório Mehlis", um livro que evoca uma vez mais a capital libanesa e o clima nela vivido antes e depois do assassinato do antigo primeiro-ministro Rafic Hariri. Mais uma vez, e acentuando a tendência dos seus livros anteriores, é a cidade de Beirute que se assume como a personagem principal dos romances desse escritor libanês (ainda) não traduzido para a nossa língua.
Crónica publicada no jornal diário Al-Hayat no dia 31 de Janeiro de 2007 dedicada à cidade de Beirute.


Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2007. Onze horas da noite. As ruas de Beirute estão vazias. Atravessa-se a rua sob as luzes eléctricas cor-de-laranja. Um posto de controlo do exército. Veículos militares. Esta noite, recolher obrigatório. O exército emitiu uma declaração. Os media transmitem a declaração oficial a cada quinze minutos. Sair no distrito de Beirute é proibido das 8.30 da noite até às seis da manhã. Caminha-se por ruas secundárias. Ninguém na rua. O vento assobia na rua Abdel Wahab al-Inglisi.

Alguns cães ladram num descampado atrás de um prédio. Não soam como raposas. Isto não é numa floresta. Os prédios não são árvores emaranhadas. As esquinas das ruas, tu conhece-las. Esta ruela não é uma brenha. Serpentes não te vão atacar vindas das lojas. O passeio está húmido. A água brota por debaixo dele. O pavimento da rua inchou. Tu conheces estes caminhos. Há anos que atravessas estes mesmo caminhos. Tu conheces as montras das lojas. Tu contas as árvores. As laranjeiras de Monot. Os ciprestes de Bliss. A quina na Sioufi. Quem rega estas árvores? As nuvens regam árvores. Esta noite não chove. Ninguém nas ruas da cidade. As pessoas refugiaram-se nas suas casas. O dia foi longo. Terça-feira, fogos disseminam-se pelas ruas da cidade. Na quarta-feira, uma manta negra cobriu varandas, carros e escritórios. O papel branco da secretária está coberto de negro. Isto não é chuva. O nível de poluição subiu. Bebam leite. O leite faz bem. Previne a asma. O fumo paira sobre o cruzamento Monot-Rue de Damas. O fumo paira sobre a manhã de quarta e os trabalhadores da construção civil limpam o caminho com mangueiras. Depois, o sol põe-se. Começa quinta. Lutam. Queres saber, ó leitor sentado para além do mar, a razão? Lutam. Ponto-final. À noite, o recolher obrigatório.

Passa da meia-noite. Da janela vê-se a cidade adormecida. O silêncio é incrível. Não há carros a cruzar as ruas. Não há televisões ruidosas. Não há festas. Não há manifestações. Não há casamentos. Não há música. Não há barulho. O silêncio é incrível. Apesar de se estar na cidade. Isto não é uma floresta. Supostamente, Beirute é uma cidade à beira-mar, sobre-povoada. Onde estão as pessoas? Sair é proibido. As pessoas permanecem em casa. Silêncio perfeito. Fechai as portas fechai as janelas. O expectante usa a oportunidade e dorme esta noite. A cidade dorme e ninguém esmurra ninguém. A cidade está dividida. Onde está a terceira metade? A terceira metade existe. Aqueles que calam não são importantes. Talvez não sejam importantes. Talvez sejam a coluna secreta. Quem impede os fósforos e os fogos de atingirem as casas? "Cinquenta justos (Gen. 18:28)". Dormirão esta noite? O teu amigo disse esta manhã: "A origem da maldição é a geografia.". Ele disse isso? É difícil nascer neste país e ter uma vida tranquila. O problema não reside nas pessoas, o problema está na localização. Estará certo? Ibn Khaldun² não distinguiria uma da outra. Pois não? Ibn Khaldun não está aqui. Teve sorte. Não, não teve sorte. Ibn Khaldun sofreu. Viveu uma vida difícil. Esta noite, ao contemplar a cidade adormecida, é possível ver Ibn Khaldun sentado à beira-mar. Ninguém o vê. O mar é de um negro quase verde. As pessoas permanecem em casa. Os soldados vestem os sobretudos. O vento da noite é frio. Apesar de nesta noite o vento ser suportável. Há pouco, havia uma brisa quente. O tempo de Beirute é imprevisível. A cidade assenta numa cabeça cravada no mar. Suspensa entre dois mundos. Se tocada pelo vento marítimo, belisca-a o frio norte. O reumático sofre. O reumatismo é terrível. A gota também.

E a gota? É melhor não comer pássaros no churrasco. A gordura não faz bem. E o reumatismo? Precisa de lã. A lã é uma protecção. Mas, se a lã provoca alergia é um problema. A doença cerca-nos. Não há necessidade de doenças agora. A cidade está adormecida. Não vamos ficar doentes enquanto dormimos. A cidade delira quando dorme. O que vê, pousada como um leão marinho à beira-mar? Vê um pesadelo. Vê o passado o presente o futuro? Ibn Khaldun senta-se na praia de Bourj Hammoud perto da montanha coberta de verde. Em que pensa? As emoções da cidade estão divididas. As pessoas estão distribuídas por duas trincheiras, três trincheiras, um número indefinido de trincheiras. É importante estar numa trincheira. Os sacos de areia servem. Os carros queimados servem. As pontes servem. Os vivos servem. Os prédios altos servem. Servem quem? Servem porquê? Não é claro. A opacidade envolve o país. Os olhos de Bourj el-Murr olham, enegrecidos cegos à cidade. Para onde ir? Mobilização, mobilização. Todos contra todos. As pessoas entrincheiradas. As trevas estarão de volta? Amanhã de manhã, a cidade estará em pedaços. Traçamos linhas verdes uma vez mais. Habitamos as ruínas do Holiday Inn? Esperamos mais dois dias? Esperamos mais uma semana? Mas porquê? A espera tortura. Tensão. Espera. O estômago está ferido de ânsia. Rebentam-te úlceras. Úlceras são um problema. Deve evitar-se comida ácida. Foul. Babba Ghanoush. Tabbouleh. Tomate. Hummos com Tahine. Fatteh com grão-de-bico e iogurte. Isto é um problema. Porque fechou Baladour as suas portas? Ibn Khaldun nunca comeu Foul em Beirute. Viveu há séculos atrás e adorava comida magrebina. Qual seria o seu prato favorito? Gostaria de ovos fritos? Gostaria de Siadhie e Samkeh Harra?
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27/11/2018 0 Comentários

Três poemas de Danae Sioziou (traduções de Joana Gomes e Michel Kabalan)

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Danae Sioziou nasceu em 1987 e cresceu entre Karlsruhe, Alemanha, e a cidade de Karditsa, na Grécia. Vive e trabalha em Atenas como promotora cultural. É co-editora do jornal literário Teflon. Tem poemas traduzidos em oito línguas e os seus poemas foram incluídos na colectânea de poesia contemporânea grega Austerity Measures (Penguin, 2016).
Estas são as primeiras traduções dos seus textos para português. 



Οικιακά – Trabalhos domésticos

Se calhar não percebeu
E nem reparou
mas continuou a cortar as mãos
depois de descascar as pêras.
O sangue fluiu com gentileza
pelas linhas do destino da vida do coração
até ao ralo
rodopiando entre pratos sujos e restos de comida.
Aproximou-se inquieto
o seu gato
com uma compaixão sincera
começou a lamber as feridas
enquanto por um breve momento
ela se contemplou no reflexo vítreo dos olhos felinos
uma estrangeira
presa numa gaiola suja
um telhado que não conhece o nascer do sol
pequenos besouros no chão
e na pia as mãos encharcadas num lago escuro
que agora brilha
coroado com a espuma branca do detergente.
Das profundezas da pia
nascem todas as luas cheias
as luas brancas
pensou
deixa-me ao menos acabar a louça hoje

Danae Sioziou (Grécia, 2008)
Publicado em  'Austerity Measures: The New Greek Poetry' (NYRB Poets, 2017)

https://youtu.be/k_PtsaEBfaI


*


Um assalto (2018)

Ao abrir a porta da minha casa
vejo que a poesia é um privilégio
como os brinquedos caros da infância
ou a enésima audição da tua música favorita
em condições acústicas perfeitas
como um beijo dado pelo amor da tua vida
como milhares de póneis brilhantes
como a vida noutros planetas
como o mel que se dissolve completamente numa chávena de chá
como rebanhos de trovões à distância
Eu gosto de escrever poemas
porque escuto o começo da minha morte
mesmo que as pessoas não gostem ouvir poemas
Eu gosto deste som
a maneira como se põe em ordem as palavras
a maneira como assaltam uma casa segura
Gosto de escrever poemas
a maneira como os gatos gostam de se lamber ao sol
e eu quero ser boa nisso.
eu quero ser boa nisso.


*


A Flecha (2010)

Anda cá e brinca comigo. Desabotoa os meus botões um por um e por cada um deles contar-te-ei um sonho. Verás como as minhas costas nuas formam um arco. Por desenhar. Quando puderes, tenta esculpir aqui, peço-te, uma flecha.

publicado em 'Useful Children’s Games', Harlequin Creature, New York 2016
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28/9/2018 0 Comentários

Dois poemas de Ziad Rahbani (traduções de Joana Gomes e Michel Kabalan)

Imagem
Cantor, músico, poeta e dramaturgo. É uma das personalidades mais famosas do Líbano da geração da Guerra Civil (1975-1991). Filho da famosa cantora Fairuz e do compositor Assi Rahbani, a sua música combina vários estilos musicais com uma predominância clara de Jazz e Blues. As suas letras são conhecidas pelo estilo satírico com que ataca a sociedade e a política libanesas. Os dois poemas aqui traduzidos inserem-se nessa temática. 


O tempo do Sectarismo
 
É o tempo do Sectarismo.
Sectarianis-mim e Sectarianis-ti 
guarda bem o teu BI, 
e fecha bem a mão
olha a lira, que bonita!
passeia livremente daqui para ali.
 
É o tempo do Sectarismo.
Cada um abre uma boutique
E um quarto fica a 1000 liras
seja na rua Sabra, seja na rua Kaslik.
Tens 1000 liras, vales 1000 liras
sejas/não importa se és druzo, católico ou budista.
 
Malta, olhem para o comerciante!
Arranja sócios dos dois lados.
“A tua religião? -Que Deus te ajude com ela!”
Ele pede-te algo sem te dar nada em troca.
Com dele deves aprender a ser laico
Em dinheiro ou em cheques.
 
E tu que moras em Achrafieh
Achra-em-mim e Achra-em-ti
Tudo bem? Novidades?
Juro que estou a pensar em ti
O aumento dos salários seja lá ou aqui
não chega nem para ti nem para mim
 
*
 
Oh inventores do alfabeto, da química e da física!
Vocês que atravessaram os sete mares
e correram antes de Colombo para as Américas
vocês  que extraíram a cor púrpura do murex
e fizeram vidro e garrafas
Porque querem saber o meu apelido?
A primeira letra e a sua posição no abecedário?
Deixem o meu nome e as suas letras em paz,

Literalm-em-mim e literalm-em-ti
Que grande vergonha mundial
Oh, criadores do alfabeto!
a orelha do Patrique está com Ahmed
e a do Ahmed com o Patrique!
 
Juro que quero o vosso bem!
Oh, filhos do Baal e das Fénix
oh cristãos, oh muçulmanos!
Se vocês persistirem na mesma táctica
Os cidadãos deste país
vão tornar-se pagãos, judeus ou bolcheviques
 
 Oh, meu, vocês estão perdidos
Entre engodos e enganos...
Eu até respeito o Cedro
mas o que há para além disso, ó sócio?
Temos umas quantas macieiras,
que dependem de Deus e do bom tempo
Temos ovos com qawarma,
fígado cru e vísceras de borrego
Desenrascamo-nos em três línguas
e sabemos beber água pela bilha
Temos uma pedra com um fóssil de um peixe,
Baalbak, Tiro e a Casa do Galo
Temos um bom porto
para a mercadoria em trânsito.
Temos liberdade – “que não vejas coisas feias na tua vida!” - e o que sobra dela.
Temos a época do sectarismo
épocas altas, épocas baixas
oh, tempo do laicismo
quando te verei a ti como Metafísica?
 
 Film Ameriki Tawil (1980)


*


Gasolina
 
 
-Querem cortar a gasolina nos próximos dias...
-Mas ainda temos duas pernas...
 
-Querem cortar a água nos próximos dias...
-Abastecemo-nos nas fontes...
 
-O frigorífico vai funcionar nos próximos dias...
-Usamos a água fria dos rios...

-Querem cortar a “esperança” nos próximos dias... 
-Esperamos por ela até ao ano 2000...
 
É espantosa a vossa maneira de andar!
Chocalham sem terem guizos!
(Estão com a moca sem fumar erva)
O que está a acontecer? Vocês são burros?
 
E o filme continua
e eu já conheço o filme sem precisar de o ver no ecrã...
valha-me Deus...
 
-Dizem que o pão vai esgotar nos próximos dias...
-Comemos pão duro e papas.
 
-Dizem que o leite em pó vai esgotar nos próximos dias...
-A tua mãe tem duas mamas...
 
Como é espantosa a vossa maneira de andar!
Chocalham sem terem guizos!
(Estão com a moca sem fumar erva)
O que está a acontecer? Vocês são burros?
 
E o filme continua
e eu já conheço o filme sem precisar de o ver no ecrã...
valha-me Deus...
 
Ana Mesh Kafer (1985)

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22/9/2018 1 Comentário

"O Sol", de Anne Sexton (tradução de Bruno M. Silva)

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O Sol

Ouvi falar de peixes
que vieram à superfície pelo sol
e aí ficaram para sempre,
ombro a ombro,
fileiras de peixes que não regressaram mais,
sugados
de todas as suas manchas altivas e solidões.

Penso em moscas
que vêm de suas cavernas impuras
para a arena.
Primeiro transparentes.
Depois azuis com asas de cobre.
Elas fulguram nas frontes dos homens.
Nem aves nem acrobatas,
irão secar como pequenos sapatos negros.

Eu sou um ser idêntico.
Adoecida pelo frio e o cheiro da casa,
Dispo-me sob a lupa abrasadora.
A minha pele alonga-se como água do mar.
Oh olho amarelo,
deixa-me adoecer com o teu calor,
deixa-me febril e enrugada.
Agora estou absolutamente entregue.
Sou a tua filha, o teu doce,
o teu sacerdote, a tua boca e a tua ave
e falarei a todos de ti,
até que me sepultem para sempre,
uma ténue bandeira cinza.

Maio 1962
De Live or Die (1966)
Tradução de Bruno M. Silva
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1/9/2018 0 Comentários

"Nós", de Anne Sexton (tradução de Bruno M. Silva)

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​Nós

Eu estava embrulhada em pêlo
negro e pêlo branco e
tu despiste-me,
puseste-me diante da luz dourada
e coroaste-me,
enquanto fora da porta,
como dardos inclinados, caía a neve.
Enquanto vinte e cinco centímetros de neve
caíam como estrelas
em minúsculos fragmentos de cálcio,
nós entrávamos nos nossos próprios corpos
(aquele quarto que nos há-de enterrar)
e tu entravas no meu corpo
(aquele quarto que nos há-de sobreviver)
e primeiro esfreguei os teus
pés molhados com uma toalha
porque eu era tua serva
e então chamaste-me princesa.
Princesa!

Oh e então
ergui-me na minha pele dourada
e abandonei os salmos
e abandonei a roupa
e tu soltaste os freios
e tu soltaste as rédeas
e eu abri os botões,
os ossos, as confusões,
os postais de Nova Inglaterra,
as dez da noite de Janeiro,
e erguemo-nos como trigo,
acres e acres de ouro,
e nós ceifamos,
nós ceifamos.


De Love Poems (1969)
Tradução de Bruno M. Silva
ver perfil de bruno m. silva
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