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30/10/2018 0 Comentários

"brasil 2018", de Regina Azevedo

jamais esquecer
de beijar a sua boca
antes de sair de casa

porque isso aqui é brasil, 2018,
e os cidadãos de bem
arma em punho, bandeira aberta
nos querem mudos,
amordaçados

escorraçados do país

a arma da família
mira no próprio sangue

a gente nunca sabe
se vai voltar a se ver

não dá pra saber
quem será o próximo

moa, marielle,
eu ou você

no brasil de 2018,
lutar e beijar
jamais esquecer
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26/10/2018 0 Comentários

"Caninos", de Stephanie Borges

Ano 14 d.c.


se as pessoas não
lidam bem com
a dor
porque um poodle
se conformaria com duas
injeções diárias de insulina
se o cão foi um dia
o inesperado
nada te prepara para
aplicar injeções, medir glicose
lavar seus olhos cegos com soro,
pingar colírios anti-inflamatórios

dias são necessários
talvez meses até
o cachorro te entender
matilha
parar de chorar
do outro lado da porta
perder o medo
do povo
da casa

em algumas cosmovisões
podem ser nossos
ancestrais

criados logo após
a separação
entre o céu
o mar, a terra

acreditamos serem nossos
porque aprendemos a escrever
lhes demos nomes
e eles respondem
mas não sabemos
como nos chamam em sua língua

um cão sem dono
é uma cria do acaso

surpresa
é o caos
quando se abre a vida
aos caninos

nos descobrimos
capazes de muitas coisas
por um bicho
depois que ele nos acompanha
e te consola quando morre alguém
chora e te espera quando você
mudou de cidade, e te acolhe de volta
perdoando a ausência
como se você nunca tivesse ido
se aninha no seu colo
e dorme como fazia quando filhote,
só que agora
mais cansado, dolorido

mija todos os cantos
onde não devia
por outras razões
mas a vida
se repete

enfim o cão escolhe
seu preferidos
gentes, lugares, brinquedos
cria hábitos e esquecemos todos
do abandono
(como é possível?)

até que ponto a cadela
aprende a se ajeitar no colo
mirando a mão
para ganhar o carinho
até que eu compreenda
sua linguagem

as orelhas para trás quando tensa
o rabo entregando a alegria
quando bate a fome, ela me dá
duas patadas e se senta

somos companheiras
as duas muito bem treinadas

quando enfim se torna nosso
nenhum cachorro
é por acaso

entre focinhadas, lambidas, pulos
o bicho
conquista seu lugar
com sua alegria de estar vivo
e fazer parte

aqueles que não comemos
e trouxemos para casa
e dizemos de estimação
domesticados
praticamente da família

sendo eles mais antigos,
seremos nós seus inquilinos?

é possível
aprender sobre as pessoas
que se espantam
de você se dispor a cuidar
de um cão bem velho
e não se apiede da cegueira
quando a dificuldade maior
a cada dia é a força de se levantar,
ele caminha devagar, conhece
a arrumação dos móveis, seus humanos
pelo cheiro

ele tem seus dias ruins
e fica quieto, guarda energias
para quando alguém chegar
sua alegria e força concentradas
no que importa

é fácil projetar
o seu medo inominável
no cachorro
quando ele
não demonstra autopiedade
mas entende
de continuar
em toda a sua fragilidade

até com o mau humor, as injeções
se mantém fiel aos seus afetos
decide teimoso com quem
se permite dormir

até entendo
que as pessoas
não olhem os bichos como eles são
o esquecimento, uma miopia
conveniente e evolutiva

mas o impressionante
é que apesar
de acidentes domésticos,
do tempo, da doença, da dor
um pooddle velho e cego e diabético
se adapta e insiste
talvez por não termos
desistido
uns dos outros
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24/10/2018 0 Comentários

"Marginália", videopoema de Diogo Costa Leal

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22/10/2018 0 Comentários

Dois poemas de Ágnes Souza

I

se eu pudesse dormiria abraçada com elas
todas as noites
por exemplo
no dia seguinte viraria para o lado e me fingiria de viva
não tenho que lidar com pedras que não são minhas
eu só quero dormir com elas sem ter que recolhê-las
sem ter que dar-lhes um nome um dinheiro para passagem de volta
se eu pudesse eu manteria distância de discursos
que me impõem uma responsabilidade por pedras
que não são minhas
a do peito
a dos rins
a do sapato
essas sim
eu carrego diariamente minhas próprias pedras sem nome
que é para não desenvolver algum vínculo
para não aparecer remorso na hora de jogá-las
de atirá-las
num rio
num rosto
num buraco que precisa ser tapado e só minhas pedras cabem
eu carrego diariamente minhas pedras
por ruas sujas e curiosamente ausentes delas
às vezes algumas me acertam a nuca
num movimento de destreza eu as capturo no meio das minhas costas
e digo: por aí só passa mão língua ou pomada relaxante muscular
se eu pudesse eu daria a algumas pessoas da minha vida
suas próprias pedras para desenvolverem responsabilidade
por algo realmente seu
se eu pudesse eu fingiria que essas mesmas pessoas não existem
nem elas
nem suas pedras
nem seu afazeres que não me dizem respeito
as pedras que às vezes surgem no caminho
não turvam a vista
não cansam os modos
eu as recolho
uma a uma
e dou pro moço que pesa objetos superestimados na esquina
para ver se eu descolo algum dinheiro
às vezes não valem nada
nem sequer pesam
mas alguém diz que pesa
que prende na garganta
que ataca o peito
eu apenas recolho
para evitar bagunça
para ver se eu consigo trocar por algodão doce
feito se fazia com panelas velhas em 1999
se eu pudesse eu comeria tuas pedras para saber o gosto que tem
ser tua pedra
andar no teu bolso
no teu anel
no teu pescoço
mas nunca te pesar o peito.


*


II

às nove horas e sete minutos da manhã
horário de moscou
do dia doze de abril de 1961
um homem
a princípio desconhecido
do velho general
foi lançado com o foguete soyuz-r-7
de uma plataforma em baikonur – no cazaquistão -
um homem
fez uma viagem em direção
ao que seria a renovação de seu espanto
no relatório oficial o velho general
citara termos técnicos
o deslumbramento com o espaço
suas formas geometricamente sem nome
os que ficaram em terra acompanhando esse homem
detiveram-se tanto a procurar palavras
em diversos idiomas para nomear
as novas formas geométricas que
esqueceram de calcular uma rota
segura para yuri aterrissar
no relatório do capitão há uma lacuna
ninguém sabe a expressão do rosto de yuri
ao voltar à terra
as pessoas o esperavam a 320 km dali
ninguém é capaz de descrever
nem mesmo o velho general
que descobriu os nomes das formas geométricas
como se apresentava o rosto de alguém
que compreende todas as noções
de leveza e queda
de modo que
nenhuma das duas foram absorvidas
por cálculos e nomes geométricos em russo
no fim do relatório
entre felicitações
frase de nikita khrushchev atribuída a yuri
a parte que nenhum jornal ou gazeta do dia
sublinhou como importante
yuri gagarin vinha sofrendo de uma ternura devastadora
dizia o general
yuri gagarin sabia que o leve era leve
que o azul era azul
e isso bastava
quem dera alguns homens em terra
sofressem de uma ternura devastadora
penso se é preciso ir até o cazaquistão
se lançar em cápsula
para aprender a nunca reverter leveza em peso
sustenta-la até dar de cara com a docilidade
azul una e antirreligiosa de yuri
em uma matéria feita por um canal americano
que se tornou famosa em meados dos anos 2000
os repórteres investiam no que havia mudado
na vida daquele homem
yuri havia ganhado fama
seu sobrenome havia sido usado
para batizar gatos cachorros e cavalos
e um periquito (no brasil)
o velho general era citado
a ternura devastadora não
yuri compreendeu
que o afastamento é necessário
para a continuidade dos envolvimentos
que a redescoberta dos astros
e das formas geométricas russas
pouco tem a ver com geometria e linguística
e sim com ternura leveza e espanto.
ver perfil de ágnes souza
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18/10/2018 0 Comentários

"Uma equação no Hyde Park", de Marília Garcia

"Uma equação no Hyde Park" é um poema com voz, imagem, texto sobre imagem, voz sobre texto. 

O poema desce ao inferno e sobe aos espaços dirigíveis, tentando falar de uma espécie de "equação": como lidar com os movimentos, percursos, caminhos, leituras. 
Imagem e texto juntos tentam emular esses movimentos e vaivéns.  

"Uma equação no hyde park" começa com uma conversa com o poeta tcheco Jaroslav Seifert, mais especificamente com o poema "Um guarda-chuva de Piccadily" (que fiz uma versão a partir da tradução para o inglês -- http://lepaysnestpaslacarte.blogspot.com.br/2012/08/um-guarda-chuva-de-piccadily-jaroslav.html) 
Depois da tradução desse poema, um verso ficou repetindo como um refrão e acabou virando refrão do meu texto: 
"está chovendo no Hyde Park hoje". 
O tom do poema dele, que é um poema de amor, 
se mistura ao movimento "equacional" de altos e baixos, de sobe e desce. 
O poema foi publicado no livro "Câmera lenta" (2017)
Depois, ao fazer o vídeo, converso com as imagens do filme "Boy meets girl", de Leos Carax, buscando também trabalhar com a ideia de refrão-repetição-citação. 
Queria que cada imagem recortada do filme pudesse explicitar os movimentos de subida e descida do poema -- sem deixar de trazer algo do filme, que é também um filme de amor (amor e desilusão). Imagens e citações descontextualizadas podem trazer algo de onde foram tiradas. Mas trabalho também com a ideia de que, postas lado a lado, elas possam costuram outras equações.  
ver perfil de marília garcia
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16/10/2018 0 Comentários

Três poemas de David Teixeira

VESTAIS

Os romanos sabiam-no:
é preciso encantar o fogo
para que arda eternamente.

Por isso escolhiam as virgens
mais bonitas para vigiarem
o fogo sagrado:

vigiando as fiéis devoções
dos homens, ardiam sublimes
em lume brando.


*


PSEUDO-ODISSEIA

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Assim eles acabavam as casas:
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     incendiavam os telhados de colmo.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                Daniel Faria

Esta é a casa que pudeste escolher,
hipotecada sobre a tua própria felicidade.
Sem dinheiro para construíres uma só tua,
compraste esta pré-fabricada e rezaste
no oráculo do balcão de atendimento bancário
para que os juros não crescessem
ao ponto de não caberem ambos nela,
o mesmo banco onde já tinhas feito
o empréstimo do carro e que te tem espremido
como por entre Cila e Caríbdis.

Este apartamento é a tua Ítaca, a tua ilha
emparedada e junta a tantas outras,
iguais ainda que diferentes, todas flutuando
e aglomerando-se à tona como sargaço
de betão, tijolos e vasos sanitários,
empurradas por uma corrente  fria
que ninguém pode prever ou controlar
e que nos leva, dia após dia, ano após ano,
por esse mar de desventuras
que é a vida quotidiana e tributada.

Estas são as contas mensais enviadas pelo Estado,
pastor míope que sabe o teu nome,
morada, NIF e declaração de rendimentos,
e a quem não importa que sejas um Zé-Ninguém
tentando garantir a independência precária
do teu reino de nem cem metros quadrados,

cuja coroa é a sala mobilada com móveis
de madeiras exóticas e chaise longue,
vasos de plantas a que desconheces os nomes
e quadros pop-art de tão mau bom gosto,
um sistema dolbysurround e a gigantesca TV HD
onde vês o noticiário do pequeno quotidiano,
mais o minibar de que te recordas quando alguns amigos
te visitam e onde guardas dentro de garrafas de uísque
o melhor líquido amarelo do rio Letes.

(Mas… que amigos? Os únicos são um gato velho e doente
a quem o veterinário já vaticinou uma morte breve
e o dono da tasca em frente, ilustre anónimo
que ouvirá as tuas queixas e impropérios enquanto
regularmente renovares o teu voto de cão fiel.)

Todas as madrugadas as estradas entopem
com o tráfego contínuo para o emprego,
versão contemporânea da guerra de Tróia,
onde passas dez horas por dia fechado
num sorriso de fachada, trapaceando
gregos e troianos sem agradar nenhuns.

A rainha Penélope todos (?) os dias te espera,
desfazendo e refazendo a dobra dos lençóis,
servindo-se do teu indolente cansaço para
te desfiar o seu novelo de queixumes e dissabores ,
confabulando que ainda revalidarias
a antiga luta contra os seus pretendentes
– e mais nada tens a acrescentar sobre ela.

Circe manda-te SMS’s para o telemóvel,
põe-te likes no Facebook e identifica-te
em fotos inocentes de que a tua mulher
já suspeita porque tu, feito parvo,
decidiste passar a segui-la no Instagram.
Os teus conselheiros, convertidos em porcos,
incentivam-te à poligamia, mas mesmo
que dormisses com ela, de manhã seria
mais uma das sereias destes tempos:
mulheres siliconadas da cintura para cima
e leggins push-up dos quadris para baixo,
com maquilhagens tão garridas que é impossível
distinguir  entre princesas e amazonas.

(Μαλάκας*! Estás velho e ainda sonhas com Nausícaa,
reencarnada na estagiária que trabalha duas secretárias
à tua frente, vestindo top e um par de blue jeans
que ainda antes de nascido o Telémaco
nunca assentariam nas ancas de Penélope.)

Ninguém sobrará que venha, sangrando,
lembrar-te pelo caminho dos asfódelos.
Nem mesmo o teu único filho, peixinho
de água doce,  que crias para afogar-se
num mar cada vez mais salgado,
sem te sobrar tempo para o ensinares
a conduzir o arado, a disparar o arco…

Mas para quê a casa, quer dizer, a vida?
Para outra encarnação, pseudo-Odisseu,
deseja antes não voltares a nascer:
ninguém está interessado em ouvir esta história,
ou qualquer outra que venhas a contar.

Μαλάκας [Má.lá.cas]: Caralho. Grego Moderno.


*


SÓCRATES EXPLICA(N)DO ÀS CRIANÇAS

O peixe voa, ainda que não
na exata medida de um pássaro:
porque o peixe não tem asas.
Mas o pássaro nada, ainda que
não na exata medida de um peixe,
porque não tem barbatanas.
Pode dizer-se que certos peixes pairam
e que certos pássaros mergulham:
que certos peixes elevam o limiar em
que nadam, que certos pássaros submergem
o espaço em que voam. Mas não
podemos dizer que o peixe é
um pássaro, nem que um pássaro
é um peixe, pelo que concebemos
que o peixe é-o não sendo pássaro,
e que o pássaro é-o não sendo peixe,
e que no limite em que se cruzam,
quase que um peixe se assemelha
a um pássaro, quase que um pássaro
se assemelha a um peixe. Como poderia
portanto o peixe voar e o pássaro nadar,
se o peixe não é pássaro nem o pássaro
peixe, e se é o peixe quem nada
e o pássaro quem voa? Voando o peixe
de forma distinta da do pássaro, e nadando
o pássaro de forma distinta da do peixe:
não se permutam os sujeitos, alteram-se
os verbos que os animam. Não que isto
tenha consequências de qualquer espécie na
realidade, mas conjugando o sujeito com
o verbo avulso conseguimos imaginar a
ação pretendida, ainda que o peixe seja
um peixe e um pássaro seja um pássaro.
Resumindo, o peixe pode voar e o pássaro
nadar, se for na tua cabeça o espaço onde
eles se locomovam: mas ter a cabeça cheia
quer de água quer de ar não é bom sinal, nem
abona a favor da tua inteligência, ou do teu
discurso, dado que a imaginação é para crianças,
meu jovem e encantadoramente inexperiente pupilo.
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13/10/2018 0 Comentários

"MEU AMOR," de Raquel Salas Rivera, dito por Francisca Camelo

Poema do livro "Desdomínios", de Raquel Salas Rivera
Tradução de Mariano Alejandro Ribeiro
Douda Correria​ (2018)
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12/10/2018 0 Comentários

Duas ilustrações de Bárbara Algures

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10/10/2018 0 Comentários

Quatro poemas inéditos de Otávio Campos

Sobre o cinema 

Na fotografia estou sentado [com cuidado]
na ponta da sua cama a te assistir
[com cuidado] perceber o tempo da mobília
porque não sei se daqui a pouco
você me come [com cuidado] e desvelo técnico
de bruços no colchão que range bambu
ou se diz a perda é a mesma se estamos
aqui ou em outra parte do continente

Pelo menos não me levanto em direção
ao seu ouvido para dizer [com cuidado] carne
por baixo de pele e destino máquina
ou o músculo não treme quando seca

Pelo menos não me esbofeteio
depois do banho e transformo a cena
um corte seco no plano contínuo
[com cuidado] Na ponta da cama sorriso trágico
é uma bela fotografia para o quadro
o que ele deveria ter dito antes da queda


*


Hwasong-15

Ao que nos parece então estamos
por aqui tudo bem, por aqui tudo bem
a palavra míssil-balear como se fosse
4.475 km para cima antes de cair
950 km de distância do disparo
                                                                                                                  do projétil
isto não é um protesto porque podemos
a palavra potência nuclear na boca
o mapa de alcance dos mísseis
foi divulgado e nenhum deles
tem chance de chegar até o Brasil
por aqui vamos todos bem com a língua
quase inerte na pronúncia hwasong
por isso a gente se beija, cara
então a gente se beija é seguro
transar na sua casa depois do trabalho
a cara inchada e o porteiro
que já sabe meu nome porém nunca
ouviu antes a palavra míssil-balear-intercontinental
porque você disse pois que anote
que chegaria com os cabelos
presos e a expressão de choro pois que
subisse não como um míssil eu não disse
a ele que há sete meses a notícia
era de que poderia atingir qualquer parte
do mundo mas desde a semana passada
estamos seguros por aqui
estamos todos bem mesmo com o serviço
de inteligência norte-americano
a confirmar que o armamento possui
dois grandes motores movidos a sólido
uma espécie de paixão a chuva característica
desses dias do ano: sólido o passo
da combustão por isso chego com a cara
vermelha e meu nome não digo
é seguro transar na sua casa nesses dias do ano
porque seu colega de quarto já foi
porque o rapaz que vive em frente já foi
porque todos já foram e nós ainda não
nós pensamos no foguete e no que pensa
o porteiro quando estamos todos bem
ou se desisto e volto ao trajeto oposto
ainda que não precise me apresentar
e dizer meu nome como o retorno
depois de um voo de 53 minutos do míssil
em sua órbita predeterminada que cai
com precisão no alvo selecionado no nada
especialistas afirmaram que falta
ao regime norte-coreano demonstrar que
domina a tecnologia de retorno controlado
das ogivas do espaço     
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        para a atmosfera
chego em casa e solto os cabelos


*


Eléctrico 28

Achas piada: como se fosse
toda a felicidade que um bicho merece
tudo o que usas a descrever o bicho
Para o Luís voltar a casa
bastava uma ponte ou uma barca
Achas piada: é tudo
como se fosses a beleza no mundo
como se fosses a varanda do Império
Repete a cor do postal: branco: Isto de tudo
a valer o mesmo é um perigo
Dormimos um do lado do outro
Dormimos abraçados à cobra que subia
o assoalho mofado do t2 sem aquecimento
eléctrico. Para o frio bacias com água
quente para que o clima acolhesse
E não cortasse
Em que vez ou outra lavávamos
as mãos sujas das escamas que nos dava


*


Do jardinismo

Pela manhã aparar as plantas
sentir na língua o leve gosto do metal

Pensa na cor do que te trouxe e depois
o gosto dela na boca: retirar as folhas
que estão mortas por debaixo do verde

Reparar cirúrgico o que aponta a terra
preta no fundo do vaso enfim separar
os corpos da suculenta que cresceram
um do lado do outro no mesmo espaço

Limpar as escamas
Separar os corpos
Conforme havias dito o que seria
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8/10/2018 2 Comentários

Três poemas de Cândido Rolim [nordestiny's child #4]

​nordestiny's child é uma coluna em formato de áudio, pensada por Adelaide Ivánova, em que poetas do nordeste do brasil vocalizam 5 minutos de poemas seus. nosso objetivo é bem pretensioso: além de abrir espaço para poetas do não-sudeste, queremos ocupar o mainstream e acabar com a exotização da nossa fala, que acontece tanto com leitores do sudeste do brasil, quanto com portugueses.

muito da culpa pela infantilização e fetichização do sotaque "nordestino" (e veja bem: o nordeste tem mil sotaques, plural e enorme que é) vem da rede globo. usando princípio bastante semelhante ao do black face, as novelas trazem atores e atrizes sudestinos que imitam, má e porcamente, o sotaque de salvador (e note-se que dentro da bahia há mil outros jeitos de falar), ignorando as idiossincrasias locais e achatando as complexidades de uma região composta de 9 estados, como se fôssemos a barra da tijuca. vocabulário local e trejeitos são maximizados ao ridículo, criando aberrações que não se encontram em parte alguma. e que distanciam o brasil de si mesmo.

essa coluna tem o sonho de acabar com esse mimimi de "ai que delícia de sotaque" ou "isso não é português" ou "isso não é linguagem literária". chega, né. 

obs: o nome "nordestiny's child" é criação do artista pernambucano aslan cabral, a quem agradecemos pela maravilhosidade.
ver perfil de Cândido Rolim
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