Natália me ensina a pompoar
Para Márcio Fernando Campos Natália me ensina a pompoar os verbos. Natália me ajuda a foder palavras. O sábado à noite também não me contenta então me convença a abrir meus botões a mostrar a minha carne a abrir minhas pernas, enxugar a arte que me queima me queima, me ajuda a abrir as janelas dessa casa fria a dar a cara a tapa porque sem você escrevo só sobre as flores (que odeio), os riachos (que odeio), o deserto silente (que odeio). Natália me gire ao redor dos rodoanéis de Saturno que orbitam no teu ombro esquerdo me faz orbitar ao redor do teu corpo inteiro. Natália me ensina a masturbar meus textos, a lamber as rimas, os meus medos, a enfiar os dedos em todos os orifícios da letra O, a chupar os pingos nos i´s, e até mesmo o I inteiro, me entregue me negue, renegue, mas Natália eu te peço, me ajuda a pompoar os verbos. * [poemas sobre poemas] Um poema é um erro que adoramos cometer. Poderíamos fazer linguiças seguros de vida cortes de cabelo cerveja artesanal leitura de borras de café extrações dentárias loteamentos imobiliários. Poderíamos mas eu fiz um poema & isso é um erro. * [vampiros sonoros ou “os sotaques devem por excelência serem sempre adoráveis”] a letra da música estava errada ela cantava com euforia mas a letra estava errada eu não quis lhe contar pois cantava e dançava como há muito tempo eu não a via fazer mas estava fora do ritmo seu sotaque era terrível e os sotaques devem por excelência serem sempre adoráveis como quando eu digo technologie ou mesmo bloody e eles dizem “own, can you repite?” and so I do I do I do... mas ela estava fora do tom numa gira infeliz que me parecia interminável as letras das músicas também falham se isso te consola e nem tudo vibra como deveria há até aquilo que permanece sempre estático uma vez que as estrelas começam a cair o ritmo errado me alicia com um prazer estranho; as memórias das perdas gritam nos alto falantes reverberam no salão e ela subitamente para, veste os sapatos dourados e a perco de vista pra sempre.
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ÊXODO
Deixo para trás as digitais da infância. Os dedos pretos & o frescor das amoras. Deixo a consagração do ontem. Aquieto-me miúdo sobre o sol de Pasárgada. Resta ainda alguma cor: O menino sonha. O tempo afaga. A vida teima dar espaço. Quem sou eu para maculá-la? * LOGOS Feixes de luz espreitando-se sob o verbo, recolhidos, reverberam no caleidoscópio da infância. Na cama, meus pais e eu, êxtase caloroso dos braços. Em combustão, um a um, todos os medos. Não havia fantasmas. Não havia clarões de discos-voadores. Nenhuma memória amarelada implorando retoques sutis. Apenas a brandura de existir sem qualquer propósito. * PREVIAM O primeiro e o último homem estão interligados cavocando a luz primeva da poesia. A sensibilidade aflora-se na espera: por isso a passagem. O mais bonito da existência tem sempre tom de despedida. |
Histórico
Fevereiro 2021
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