A BACANA
  • Equipa
  • Autores
    • Autores A >
      • Adília César
      • Adriana Falcão
      • Afonso Rocha
      • Alice Barros
      • Amanda Vital
      • Ana C. Moura
      • Ana Maria Vasconcelos
      • Ágnes Souza
      • Ana Bessa Carvalho
      • Ana Guadalupe
      • Ana Raquel Silva
      • André Edson
      • António Carlos Simão
      • Antônio LaCarne
      • Arthur Lungov
      • Augusto César
    • Autores B >
      • Bárbara Algures
      • Barbara Stronger
      • Basco
      • Bruna Mitrano
      • Bruno de Abreu
      • Bruno M. Silva
    • Autores C >
      • Caio Augusto Leite
      • Camila Assad
      • Camila Marchioro
      • Cândido Rolim
      • Carla Diacov
      • Carlos Bessa
      • Casé Lontra Marques
      • Catarina Alves
      • Chrischa Venus Oswald
      • Clara Costa
      • Cláudia Capela
      • Corina Lozovan
    • Autores D >
      • Daniel Ferreira
      • Daniel Francoy
      • David Teixeira
      • Delfim Ruas
      • Daniel Maia-Pinto Rodrigues
      • Denise Pereira
      • Diana Costa
      • Diego Wayne
      • Diogo Costa Leal
    • Autores E >
      • Emanuel Matos-Drago
      • Estela Rosa
      • Evelyn Blaut Fernandes
    • Autores F >
      • Fábio Severino
      • ​Felipe Stefani
      • Fernando Esteves Pinto
      • Fernando Graça
      • Felipe Marcondes da Costa
      • Flávio Morgado
      • Francisca Camelo
      • Francisco Topa
      • Fred Spada
      • Frederico Klumb
    • Aurores G >
      • Gabriel Innocentini
      • Gabriel Tropz
      • Gabriela Gomes
      • Gisela Casimiro
      • Guilherme Dourart
      • Gustavo Zeitel
    • Autores H >
      • Hugo Ferraz Gomes
      • Hugo Milhanas Machado
    • Autores I >
      • Inês Coelho
      • Inês de Carvalho Eusébio
      • Inês Morão Dias
      • Inês Viegas Oliveira
      • Isabela Sancho
      • Ismael Ramos
      • Ismar Tirelli Neto
      • Ítalo Lima
      • Ithalo Furtado
    • Autores J >
      • J. Carlos Teixeira
      • Jean Sartief
      • Jo Osbornia
      • Joana Coutinho
      • Joana Teixeira
      • Joana Gomes e Michekl Kabalan
      • João Pedro Azul
      • João Bosco da Silva
      • José Diogo Aida
      • José Magro
      • José Pascoal
      • José Pereira
      • José Pedro Moreira
      • Josep Domènech Ponsatí
      • Juan Manuel
      • Julia Raiz
      • Julio Dolbeth
      • Jussara Santos
    • Autores K >
      • Kátia Borges
    • Autores L >
      • Laís Aquino
      • Leonardo Cattoni
      • Lubi Prates
      • Luca Argel
      • Lucas Luiz
      • Lucas Perito
      • Luís A. Fernandes
      • Luís Duque Salazar
      • Luísa Gadelha
      • Luís Gomes
      • Lucas Trindade da Silva
      • Luís Pedroso
      • Luís Perdiz
      • Luís Quintais
      • Luiza Nilo Nunes
    • Autores M >
      • Madalena Sereno de Almeida
      • Mafalda Salgueiro
      • Mafalda Sofia Gomes
      • Maitê Rosa Alegretti
      • Marcelo Vinci
      • Marco Mackaaij
      • Marcus Cardoso
      • Marcus Vinicius
      • Maria Brás Ferreira
      • Maria Sousa
      • Mariana, A Miserável
      • Mariano Alejandro Ribeiro
      • Marília Garcia
      • Marina Rima
      • Mário Correia
      • Marta Chaves
      • Marta Pais Oliveira
      • Matheus Felipo
      • Matheus Guménin Barreto
      • Maurício Simionato
      • Mauro Pinto
      • MF
      • Michaela v. Schmaedel
      • Miguel De
      • Miguel Abalen
      • Miguel Cruz
      • Miguel de Oliveira
      • Murilo Petito Cavalcanti
    • Autores N >
      • Nuno Moura
    • Autores O >
      • Olga Santos
      • Otávio Campos
    • Autores P >
      • Patrícia Lino
      • Paulo Malekith Rema
      • Paulo Pais
      • Paulo Rodrigues Ferreira
      • Pedro Craveiro
      • Pedro Ludgero
      • Pedro Vale
    • Autores R >
      • Rafael Sperling
      • Rafael Zacca
      • Raissa Correia
      • Ramon Carlos
      • Regina Azevedo
      • Renan Reis
      • Ricardo Belo de Morais
      • Ricardo Escudeiro
      • Ricardo Leitão
      • Ricardo Tiago Moura
      • Rodrigo Araújo
      • Rosa Alice Branco
      • Rosário Pinheiro
      • Rui Aniceto
      • Rui Esteves
      • Rui Ribeiro
    • Autores S >
      • Samuel Costa
      • Sergio Maciel
      • Sérgio Morais
      • Silvana Sousa
      • Sofia Ferrés
      • Sophia Pinheiro
      • Stephanie Borges
      • Suely Torres
      • Susana Klein
      • Susy Freitas
    • Autores T >
      • Tatiana Faia
      • Thiago Barbalho
      • Tiago Alves
      • Tiago D. Oliveira
      • Tiago Rabelo
      • Tito Leite
      • Tomás Cohen
      • Tomás Gorjão
      • Tomás O. Costa
    • Autores U >
      • Ulisses de Carvalho
    • Autores V >
      • Vicente Vázquez Vidal
      • Victor Hugo
      • Vítor Teves
    • Autores Y >
      • Yasmin Nigri
      • Yvette K. Centeno
    • Autores Z >
      • Zé Pedro Pereira
  • Poemas Reunidos I
  • Colunas
    • Colagénio
    • Do Levante ao Poente
    • Nordestiny's Child
    • SpiegelZwEi
    • Tainada
  • Submissões
  • A Bacana ilustrada
  • Equipa
  • Autores
    • Autores A >
      • Adília César
      • Adriana Falcão
      • Afonso Rocha
      • Alice Barros
      • Amanda Vital
      • Ana C. Moura
      • Ana Maria Vasconcelos
      • Ágnes Souza
      • Ana Bessa Carvalho
      • Ana Guadalupe
      • Ana Raquel Silva
      • André Edson
      • António Carlos Simão
      • Antônio LaCarne
      • Arthur Lungov
      • Augusto César
    • Autores B >
      • Bárbara Algures
      • Barbara Stronger
      • Basco
      • Bruna Mitrano
      • Bruno de Abreu
      • Bruno M. Silva
    • Autores C >
      • Caio Augusto Leite
      • Camila Assad
      • Camila Marchioro
      • Cândido Rolim
      • Carla Diacov
      • Carlos Bessa
      • Casé Lontra Marques
      • Catarina Alves
      • Chrischa Venus Oswald
      • Clara Costa
      • Cláudia Capela
      • Corina Lozovan
    • Autores D >
      • Daniel Ferreira
      • Daniel Francoy
      • David Teixeira
      • Delfim Ruas
      • Daniel Maia-Pinto Rodrigues
      • Denise Pereira
      • Diana Costa
      • Diego Wayne
      • Diogo Costa Leal
    • Autores E >
      • Emanuel Matos-Drago
      • Estela Rosa
      • Evelyn Blaut Fernandes
    • Autores F >
      • Fábio Severino
      • ​Felipe Stefani
      • Fernando Esteves Pinto
      • Fernando Graça
      • Felipe Marcondes da Costa
      • Flávio Morgado
      • Francisca Camelo
      • Francisco Topa
      • Fred Spada
      • Frederico Klumb
    • Aurores G >
      • Gabriel Innocentini
      • Gabriel Tropz
      • Gabriela Gomes
      • Gisela Casimiro
      • Guilherme Dourart
      • Gustavo Zeitel
    • Autores H >
      • Hugo Ferraz Gomes
      • Hugo Milhanas Machado
    • Autores I >
      • Inês Coelho
      • Inês de Carvalho Eusébio
      • Inês Morão Dias
      • Inês Viegas Oliveira
      • Isabela Sancho
      • Ismael Ramos
      • Ismar Tirelli Neto
      • Ítalo Lima
      • Ithalo Furtado
    • Autores J >
      • J. Carlos Teixeira
      • Jean Sartief
      • Jo Osbornia
      • Joana Coutinho
      • Joana Teixeira
      • Joana Gomes e Michekl Kabalan
      • João Pedro Azul
      • João Bosco da Silva
      • José Diogo Aida
      • José Magro
      • José Pascoal
      • José Pereira
      • José Pedro Moreira
      • Josep Domènech Ponsatí
      • Juan Manuel
      • Julia Raiz
      • Julio Dolbeth
      • Jussara Santos
    • Autores K >
      • Kátia Borges
    • Autores L >
      • Laís Aquino
      • Leonardo Cattoni
      • Lubi Prates
      • Luca Argel
      • Lucas Luiz
      • Lucas Perito
      • Luís A. Fernandes
      • Luís Duque Salazar
      • Luísa Gadelha
      • Luís Gomes
      • Lucas Trindade da Silva
      • Luís Pedroso
      • Luís Perdiz
      • Luís Quintais
      • Luiza Nilo Nunes
    • Autores M >
      • Madalena Sereno de Almeida
      • Mafalda Salgueiro
      • Mafalda Sofia Gomes
      • Maitê Rosa Alegretti
      • Marcelo Vinci
      • Marco Mackaaij
      • Marcus Cardoso
      • Marcus Vinicius
      • Maria Brás Ferreira
      • Maria Sousa
      • Mariana, A Miserável
      • Mariano Alejandro Ribeiro
      • Marília Garcia
      • Marina Rima
      • Mário Correia
      • Marta Chaves
      • Marta Pais Oliveira
      • Matheus Felipo
      • Matheus Guménin Barreto
      • Maurício Simionato
      • Mauro Pinto
      • MF
      • Michaela v. Schmaedel
      • Miguel De
      • Miguel Abalen
      • Miguel Cruz
      • Miguel de Oliveira
      • Murilo Petito Cavalcanti
    • Autores N >
      • Nuno Moura
    • Autores O >
      • Olga Santos
      • Otávio Campos
    • Autores P >
      • Patrícia Lino
      • Paulo Malekith Rema
      • Paulo Pais
      • Paulo Rodrigues Ferreira
      • Pedro Craveiro
      • Pedro Ludgero
      • Pedro Vale
    • Autores R >
      • Rafael Sperling
      • Rafael Zacca
      • Raissa Correia
      • Ramon Carlos
      • Regina Azevedo
      • Renan Reis
      • Ricardo Belo de Morais
      • Ricardo Escudeiro
      • Ricardo Leitão
      • Ricardo Tiago Moura
      • Rodrigo Araújo
      • Rosa Alice Branco
      • Rosário Pinheiro
      • Rui Aniceto
      • Rui Esteves
      • Rui Ribeiro
    • Autores S >
      • Samuel Costa
      • Sergio Maciel
      • Sérgio Morais
      • Silvana Sousa
      • Sofia Ferrés
      • Sophia Pinheiro
      • Stephanie Borges
      • Suely Torres
      • Susana Klein
      • Susy Freitas
    • Autores T >
      • Tatiana Faia
      • Thiago Barbalho
      • Tiago Alves
      • Tiago D. Oliveira
      • Tiago Rabelo
      • Tito Leite
      • Tomás Cohen
      • Tomás Gorjão
      • Tomás O. Costa
    • Autores U >
      • Ulisses de Carvalho
    • Autores V >
      • Vicente Vázquez Vidal
      • Victor Hugo
      • Vítor Teves
    • Autores Y >
      • Yasmin Nigri
      • Yvette K. Centeno
    • Autores Z >
      • Zé Pedro Pereira
  • Poemas Reunidos I
  • Colunas
    • Colagénio
    • Do Levante ao Poente
    • Nordestiny's Child
    • SpiegelZwEi
    • Tainada
  • Submissões
  • A Bacana ilustrada
A BACANA

Cinco poemas de Max Czollek traduzidos para português por Mafalda Sofia Gomes (SpiegelZwEi #2)

12/4/2021

0 Comentários

 
Imagem
SpiegelZwEi é um projeto de Mafalda Sofia Gomes em que se estrelam dois ovos na frigideira, a nova poesia de língua alemã e a respetiva versão portuguesa. Juntos resultam numa experiência gastronómica intensa.
​
Guten Appetit!
​Max Czollek, nascido em Berlim em 1987. Licencia-se em Ciência Política na mesma cidade e conclui, em 2016, um doutoramento sobre o surgimento e a disseminação do antissemitismo no Cristianismo primitivo. Membro do Lyrikkollektiv G13. Autor dos livros de poemas Druckkammern (Câmaras isobáricas) (2012), Grenzwerte (Limiares) (2019) e Jubeljahre (Jubileus) (2015), publicados pela Verlaghaus Berlin. Dinamizador, desde 2013, do projeto Babelsprech (Fala de Babel), orientado para a divulgação de jovens poetas de língua alemã. Coeditor da revista Jalta – Positionen zur jüdischen Gegenwart (Ialta – Posições sobre a contemporaneidade judaica) e da antologia Lyrik von Jetzt 3 (Poemas de Agora 3). (Wallstein 2015). Em 2018 dá à estampa o livro de ensaios Desintegriert euch! (Desintegrem-se!)(Carl Hanser Verlag).Recebeu o prémio de Literatura de Bona (2017), a bolsa para a residência artística da Kulturakademie Tarabya em Istambul  (2018) e, finalmente, o prémio Václav Burian Preis de Olomouc na República Checa. Em 2020, iniciou e foi curador do projeto Tage der Jüdisch-Muslimischen Leitkultur (Congresso descentralizado que propõe uma contranarrativa artística da cultura alemã).
Todos os poemas traduzidos integram Jubeljahre.
eu dirijo-me àqueles 
que partiram como pais
e voltaram como filhos

que estavam no lidl e acreditaram
que era hora de tomar os gofres

que na alvorada
entraram por uma porta
e de seguida pediram desculpa

que de forma nenhuma
se deixam apanhar vivos, cujo corpo de sangue
traz coletes à prova de bala

//


ich wende mich an diejenigen
die als väter auszogen
und zurückkehrten als söhne

die im lidl standen und glaubten
es sei zeit zu den waffeln zu greifen

die in der morgendämmerung
eine tür eintraten
und sich anschließend entschuldigten

die sich auf keinen fall
lebendig fangen lassen, deren blutkörper
kugelsichere westen tragen

*

eu dirijo-me àqueles 
que sempre quiseram fumar 
lucky strikes numa estação de serviço

que deixam crescer a barba
para esconder os dentes
que já não têm medo dos médicos

que inventam uma arma secreta 
e que se esquecem dos planos de construção
debaixo do assento a caminho do ponto de encontro 

eu dirijo-me àqueles
que têm um cinto para a barriga
e uma mala para lugares movimentados
estações centrais, grande liberdade, campo de estelas

//

ich wende mich an diejenigen
die schon immer mal lucky strikes
an einer tankstelle rauchen wollten
 
die sich bärte wachsen lassen
um dahinter ihre zähne zu verstecken
die keine angst mehr haben vor den ärzten
 
die eine geheimwaffe erfinden
und die baupläne auf dem weg zum treffpunkt
unter ihrer sitzbank vergessen
 
wende mich an diejenigen
die gürtel besitzen für ihren bauch
und einen koffer für stark frequentierte orte
hauptbahnhöfe, große freiheit, stelenfeld

*

(DESCOBERTA DA VELOCIDADE)
 
no início, Josef, ainda é fácil:
quanto mais depressa correres, mais depressa
muda a paisagem:
montanhas rodeadas de verde tropa, trilhos
pinheiros como grades
 
não olhes para a nuvem
que se levanta como arde o vale
 
o olho da terra está aberto
segue-te persistentemente
não se permite pestanejar
 
tenta fugir do alvo em cruz
esquiva-te durante o dia
dá descanso à noite
esconde a tua tocha, recapitula a rota
avanças mais devagar
do que roda a esfera em progresso
contra o teu trajeto
 
Josef, iosif, joseph
quem foste
em quem te tornaste?

//

(ENTDECKUNG DER GESCHWINDIGKEIT)
 
zu beginn, josef, ist es noch einfach:
je schneller du läufst, desto schneller
wechselt die landschaft:
berge gehüllt in tarnfarbe, knüppelpfade
tannen wie hamburger gitter
 
schau nicht auf den nebel
der steigt als brenne das tal
 
das auge der erde ist aufgesperrt
folgt dir beständig
erlaubt sich nicht, zu zwinkern
​
versuche, dem fadenkreuz zu entwischen
schlage haken bei tag
gib ruhe zur nacht
verberge deine fackel, rekapituliere die route
kommst langsamer voran
als drehte sich die kugel zunehmend
gegen deinen lauf
 
josef, josif, joseph
wer bist du gewesen
wer bist du geworden?

*

os anões levantam-se e sacodem-se, expõem à luz
as imagens da minha mala. a mim ensinaram-
-me a usar benzina como sabonete, regras
pela regra, nenhum isqueiro à lareira.
 
esta compulsão de fazer de cada viagem um exílio.
incêndios nos quintais, desejo-o
debaixo dos pinheiros. ontem as florestas ainda eram suficientemente
sábias para se esconderem nos museus.  hoje a minha nova pátria
chama-se vagão
 
se me querem acordar, faço de conta que durmo.
faço de conta que durmo, sonho: houve pedras,
pesos, que tu expulsaste dos teus olhos.
preciso seria autoridade suficiente
para dizer “amor”

//

die zwerge stehen auf und schütteln sich, belichten
die bilder aus meinem koffer. mir wurde beige-
bracht, benzin wie seife zu gebrauchen, regeln
für die regel, kein feuerzeug an feuerstellen.
 
dieser zwang, aus jeder reise ein exil zu machen.
brennt es in den kleingärten, wünsche ich mich
unter tannen. gestern waren die wälder noch klug
genug, sich im museum zu verstecken. heute heißt
meine neue heimat mitropa
 
will man mich wecken, stelle ich mich schlafend.
stelle ich mich schlafend, träume ich: es gab steine,
hantelschwer, die du mir aus den augen räumst.
was es bräuchte, wäre ausreichend autorität,
„liebe“ zu sagen

*

o conserto do mundo, talvez quando o vapor da respiração das cabras, quando a
floresta, o âmbar, o frio, talvez quando os copos de medir se encherem, talvez
quando a terra for tomada, talvez quando nós sozinhos e sozinhos talvez depois quando a
palavra casa, talvez quando os amigos morrerem, talvez depois das festas
talvez quando todas as nossas perdas, talvez os vasos e a luz dispersa,
talvez quando as cercas da escritura, talvez quando não restar nenhuma folha de papel nas
articulações dos muros, talvez quando os mortos dançarem talvez de alegria estrondosa
talvez quando a luz ao fundo das salas de parto, talvez um conserto do mundo

//

die reparatur der welt, vielleicht wenn der dampfatem der ziegen, wenn der
wald, der bernstein, die eiszeit, vielleicht wenn der becher gefüllt, vielleicht
wenn das land erobert, wenn wir allein und allein vielleicht wenn dann das
wort zuhause, vielleicht wenn die freunde sterben, vielleicht nach den festen
vielleicht wenn all unsere verluste, vielleicht die gefäße und das weit verstreute licht,
vielleicht wenn die zäune von der schrift, vielleicht wenn keine zettel in den
fugen der mauern, vielleicht wenn die toten vielleicht tanzen vor lauter glück
vielleicht das leuchten am ende der kreisssäle, vielleicht eine reparatur der welt
Imagem
Imagem
Fotografia de Lydia Goolia
​Ilustração de​ Varvara Polyakova
Spiegelzwei
ver perfil de Mafalda Sofia Gomes
0 Comentários

Cinco Poemas de Luís A. Fernandes

7/4/2021

0 Comentários

 
Estamos velhos, criança

brincávamos a alguma coisa.
dizem as fotos que sujávamos
as fraldas e as mãos de lama.
levávamos depois as mãos
à boca e sorvíamos a terra mole.

no segundo seguinte acordámos
engolidos por um relvado pisado
e molhado, mais castanho que verde.
não há máquinas nem fraldas
nesta fotografia que ficou por tirar.

estamos velhos, criança. hoje
é a terra que nos come a nós.

*

A consciência do apocalipse

um vizinho lia o céu há dias
partia da varanda em viagem
anárquica à porta do mundo.

no andar de baixo, uma mulher
embalava o filho enquanto me
oferecia diferenças por resolver.

invejava-lhes a consciência do
apocalipse ou a inconsciência
de tudo. ao longe, uma sirene.

*

O primeiro pêlo branco

faltava-lhe o relógio no pulso,
sobrava-lhe a certeza de um atraso
inventado a amparar-lhe a vergonha.

sonhava-se observado, a nuca febril
a expulsar a convicção de ser olhado
por personagens que inventou,
antepassados que nunca viveram.

sentia-se sépia, flor adiada por 
parasitas que lhe comeram a cor.

suava o suor dos falsos alarmes
quase tão assustado como ficou
com o primeiro pêlo branco 
que encontrou no peito.

*

Lá onde se escondem os pássaros

os jacarandás acordaram 
hoje roxos as folhas verdes 
de outrora uma miragem.

um relógio arrítmico 
pontua o silêncio.

os pássaros continuam 
a cantar ninguém sabe 
onde se escondem.

só confio no pó para me explicar
o movimento ácido do tempo.

pela janela lançam-me um fio de luz
uma corda
incentivo último à deserção.

*

O luto dos teus olhos

o sol caía no luto 
dos teus olhos. 
o silêncio do choro
contido interrompido 
por tratores.

a faca a pressionar o estômago.

crianças corriam 
à frente da capela,
não havia forças 
para as mandar
parar. um ecrã 
passava fotos dela
lembrava-nos de não 
olhar para o caixão.

os da primeira fila carregavam 
as múltiplas variações do horror
nos rostos. o silêncio
de uma banheira a meia luz.

um dia bom na aldeia, portas 
e janelas abertas. não se via tanta
gente junta desde a última.
Ver Perfil de Luís A. Fernandes
0 Comentários

Cinco poemas de Basco

5/4/2021

0 Comentários

 
digo meus lábios navegando nos teus seios
como que      segurando o mundo    trémulo         áspero
as veias da cidade incendiadas    sufocados pelo seu negócio
seiva de        engrenagens sorvidas pelo seu próprio desejo
o grito tomando o lugar da boca
projectando-se no ar    belo        perdido            letal

de pátria apenas conhecemos na infância
um lago cavernoso de animais largando longos bafos quentes de vício
a praça dos poveiros        que tal como grande parte do país literário
foi colonizada por turistas de gin na mão

fomos-nos perdendo menos absurdos    menos belos    demorando a morrer 

e ainda que me tenha segurado
em fios de elétricos que hoje se prontificam a ser removidos
ainda que tenha descoberto na fula
carnavais ditosos cujas ressacas não guardaram
como que   uma Revolução    
que se pudesse afirmar como um gesto poético autêntico
digo     concretizado    ou pleno    como podres plenos dentes os teus são     
tenho ainda   alguma       inesperada relutância       ao ver-me musgo
nos pilares de mármore     siderais e geométricos      desta grande civilização
- ó vindouros ciumentos como anjos -
que inaugurou a época do saque

*

I

Falar-te da raiva
do choro esquecido nas sombras das fábricas
de entre a dolorosa luz das lâmpadas
onde o outro descobriu a histeria
ter descoberto a fome     a miséria        a escravidão
ou a tua cara devorada pelas seis da manhã
bruta   fúnebre  esquálida   viciada
tesão das tuas costas plenas como magma
arrancar-lhe as escamas  uma a uma 
                      com toda a dor 
                      e todo o mal
o espectro de uma civilização lavrada pelo medo

II 

a criança leva-te pela escada
esta é a morte dos seus antepassados
seus ossos são o que resta dos seus gritos
afiados     brancos      inexpiáveis
relíquias     tabacário solaz        promessa de meia-praia

a impaciente aurora dos punhais 

III

nas suas goelas
ouvir as cordas das pontes a içar
o turbilhão doido do sal no vento
preparado para descobrir o amor

IV-

o Forte tinha razão
entre carrasco e condenado
não há diálogo
diálogo é entre camaradas amantes
gargalos alimentados pelo mesmo grito
combinações análogas de cocktail molotof
preparadas para explodir    
quando como que acreditada
a primeira palavra for dita.

*

I

uma praça como
                        um delírio aguardado
subitamente lapidada da sua pele
como que         florescendo para o mundo
trazendo nos doces leitos das suas carruagens
os sonhos roubados dos terrores nocturnos
povo exaurido em suor frio

digo P-R-A-Ç-A
            mas deveria dizer mercado
lota honrável da pátria
o nervo do cavalo
                        excitando a plateia da gordura régia.

II

Invertebrado como a luz solar
tu iluminaste este lugar
e se teus dentes são de vidro
lança TU mais uma vez
a tua paixão sob os astros
cemitérios sangrando sobre as testas dos filhos
dando-lhes    nome            fardo
                            linhagem patriarcal
                                                    arsenal de raiva

honrando as lápides             com
                        narrativas do veneno
                                               traições em barda
                                                           barricadas de sonho

quem fez cesariana na tua boca
ensinou-te que rasgando a carne
a canção é autêntica
como
um tornado enojado pela abundância
ou uma aurora
            escrevendo o seu nome nas nuvens

a fome legitima-te a comê-los

a tua fome justifica que os comas

III

A poesia não está nas palavras
as palavras são a crosta da poesia
como uma ferida, cicatriz
pela estranha recordação da guerra que provoca
as palavras recordam-nos da poesia
porque ainda não é tempo de parar de matar.

*

Não conhecerás a noite
enquanto não domares o fogo

não como quem seduz a morte
            no ofício temporâneo do cutileiro
nem tão pouco como quem a deu a conhecer ao povo
            com suspeita clareza            confiança no futuro

mas como quem nunca estranhou
            a presença do sal
            na madrugada do rosto
sabendo onde a corrente
            leva os seu fantasmas
            para lhes dar carne
            encenar a sua trama inexpiável

e as crianças públicas expectantes
a mulher frígida de sardas estrelares
sabem que o reflexo é a última aparição do corpo
e com um dedo estendido procuram o seu complemento     
mergulhá-lo nas profundezas do seu retrato fluvial
provar a matéria fundamental de tudo o que habita 

Não conhecerás o fogo                   arder
            enquanto não vires a tua casa a arder
                                                       arder

não como quem chora pelo fim do império
            como um farol abandonado depois da grande seca
nem tão pouco como quem aguarda
            o regresso da barbárie        

mas como que encontrou
            nos ovos das baratas
            ecos de uma civilização demasiado c-o-n-t-e-m-p-o-r-â-n-e-a
até porque como assombrou Pirandello:
           a          civilização    é          a          barbárie

e os corpos incinerados pelo esquecimento
os portos que foram dourados como templos
a aprender a devoção pelas lágrimas
são nem já a pompa triunfante da guerra

a exterminação dos gentios

Não conhecerás o fogo

*

aguardando 
            numa frígida paragem de autocarro 
                                                           a vinda da paixão
e Hopper             desenhando
com malícia a magreza do espaço
                        a renúncia deste à transcendência
                                    as costelas com saliências de fome
                                               a sua face convalescendo no deserto

há aqui
como que uma razão em falta
            um motor esbaforido contra os tambores da carne
                        ameaçando colar-se nos pulmões    
                                    agrilhoá-los de sentido
                                               ter no cabo da navalha um povo a arder

e se a besta estouvada
chorasse         enfim
as suas lágrimas na minha testa
não teria mais consolo
a morte.
ver perfil de Basco
0 Comentários
    ​Comprar
    "A Bacana.
    Poemas Reunidos I"

    aqui
    ou nas livrarias
    Imagem
    Imagem
    Imagem
    Imagem

    Histórico

    Abril 2021
    Março 2021
    Fevereiro 2021
    Janeiro 2021
    Dezembro 2020
    Novembro 2020
    Outubro 2020
    Setembro 2020
    Agosto 2020
    Julho 2020
    Junho 2020
    Maio 2020
    Abril 2020
    Março 2020
    Fevereiro 2020
    Janeiro 2020
    Dezembro 2019
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Setembro 2019
    Agosto 2019
    Julho 2019
    Junho 2019
    Maio 2019
    Abril 2019
    Março 2019
    Fevereiro 2019
    Janeiro 2019
    Dezembro 2018
    Novembro 2018
    Outubro 2018
    Setembro 2018
    Agosto 2018
    Julho 2018
    Junho 2018
    Maio 2018
    Abril 2018
    Março 2018

Proudly powered by Weebly