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Quatro contos breves de Margaret Atwood traduzidos por Maria Sousa

30/4/2019

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Gajas impopulares

Todos têm a sua vez, agora é a minha. Ou pelo menos era o que nos ensinavam no jardim-escola. Não é realmente verdade. Alguns têm mais vezes que outros, e eu nunca tive uma, nem uma. Eu mal sei dizer eu, ou
meu, tenho sido ela, a ela, aquela, há tanto tempo.

Nem sequer me foi dado um nome; fui sempre a irmã feia , ponham ênfase no feia. Aquela para quem as outras mães olhavam e depois desviavam o olhar abanando as cabeças suavemente. As suas vozes baixavam ou calavam-se quando eu entrava no quarto, com os meus vestidos bonitos, a minha cara inerte e carrancuda. Elas tentavam pensar em algo para dizer que redimisse a situação - bem, ela é forte - mas sabiam que era inútil. E eu também.

Acham que eu não odiava a pena delas, a sua bondade forçada? E saber que, não importava o que eu fizesse, o quão virtuosa eu era, ou trabalhadora, eu nunca seria bonita. Não como ela, aquela a quem bastava estar sentada para ser adorada. E ainda se admiram porque eu espetei alfinetes nos olhos azuis das minhas bonecas e lhes puxei o cabelo até elas ficarem carecas? A vida não é justa, porque é que eu deveria ser?

Quanto ao príncipe, acham que eu não o amei? Amei-o mais do que ela; amei-o mais que tudo. O suficiente para cortar o meu pé, o suficiente para matar. Claro que me disfarcei com muitos véus, para tomar o lugar dela no altar. Claro que a empurrei da janela para fora e puxei os lençóis para cima da cara e fingi ser ela. Quem não o faria, se estivesse no meu lugar?

Mas todo o meu amor chegou sempre a um mau fim. Sapatos a escaldar, barris cheios de pregos. É assim que se sente, amor não correspondido.

Ela também teve um filho. A mim nunca me foi permitido.

Tudo o que vocês quiseram, eu quis também.

Good Bones

​


*



Mais nenhuma foto

Mais nenhuma foto, de certeza que há suficientes. Mais nenhuma sombra de mim atirada pela luz para pedaços de papel, para quadrados de plástico. Mais nenhuns dos meus olhos, bocas, narizes, humores, maus ângulos. Mais nenhuns bocejos, dentes, rugas. Eu sofro da minha própria multiplicidade. Duas ou três imagens teriam sido suficientes ou quatro ou cinco. Isso teria permitido uma ideia firme. Isto é ela. Assim, sou aguada, enrugo, de momento em momento dissolvo-me nos meus outros eus. Vira a página: tu, a olhar, estás novamente confuso. Conheces-me bem demais para me conhecer. Ou, não bem demais: a mais.

The Tent



*



Mais depressa

Andar não era suficientemente rápido, por isso corremos, correr não era suficientemente rápido, por isso galopámos. Galopar não era suficientemente rápido, por isso velejámos, velejar não era suficientemente rápido por isso rolámos felizes por longos carris de metal. Os longos carris de metal não eram suficientemente rápidos, por isso conduzimos. Conduzir não era suficientemente rápido, por isso voámos. Voar não é suficientemente rápido, não para nós. Queremos lá chegar depressa. Chegar onde? A qualquer sitio onde não estejamos. Costumam dizer que uma alma humana só pode ir tão rápido quanto um homem pode andar. Nesse caso, onde estão as almas todas? Deixadas para trás. Vagueiam aqui e ali, lentamente, luzes sombrias, tremeluzentes, de noite nos pântanos, à nossa procura, mas não são suficientemente rápidas, não para nós, estamos muito à frente delas, nunca nos apanharão. É por isso que nós podemos ir tão depressa? As nossas almas não nos pesam.

The Tent



*



O corpo feminino

Ele disse, não quero uma dessas coisas cá em casa. Dá uma falsa noção de beleza a uma menina, já para não falar de anatomia. Se uma mulher fosse feita assim cairia de borco. Ela disse, se não a deixarmos ter uma como todas as meninas, ela vai-se sentir isolada. Vai-se tornar num problema. Vai ansiar por uma e vai querer ser uma. A repressão gera sublimação, sabes bem isso. Ele disse, não são só as mamas de plástico pontiagudas, são as roupas. As roupas e aquele estúpido boneco masculino, como é que ele se chama, aquele com a roupa interior colada. Ela disse, é melhor despachar isto enquanto ela é pequena. Ele disse, está bem, mas não me deixes ver. Veio a sibilar pelas escadas abaixo, atirada como uma seta. Completamente nua. O cabelo tinha sido cortado, a cabeça virada de trás para a frente, faltavam-lhe alguns dedos dos pés, e estava toda tatuada com arabescos de tinta roxa. Atingiu o vaso das azáleas, tremeu por um momento, como um anjo remendado e caiu. Ele disse, acho que estamos safos, o perigo já passou.

Good Bones
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Dois poemas de Renan Reis

25/4/2019

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​resista. os papéis estão cheios, 
não há quadros na sala, o quarto
é vazio e cansaço, mas existem
os maus poemas para serem
escritos, basta ouvi-los, escutá-los.
não consegue escrever o poema?
não consegue deixar de escrevê-lo?
ora, pense nos anos que virão, mas não
pense no amanhã, tão próximo e ardente.
onde fechar os olhos, cessar a alma?
foque, com insitência, na rua, nos passos,
no tempo onde come de mãos sujas a vida.
desista da torre, deponha o sonho.
aceite, está mais do que provado,
a vida é impossível ao meio-dia.
por que a fúria e gana de quem quer
vencer a partida a qualquer custo?
pense: é isto ou o silêncio, e você,
meu caro, sabe como o silêncio
infiltra-se, rói e persiste, ruidoso.
não desista das ninharias, do pó
sobre as flores de plástico, do ouro
de plástico e do que nele é possível
de lúdico e frio, pois tudo é isso:
lúdico e frio. que esperar mais?
as palavras estão gastas, gasto
está o mundo por onde anda
debuxando sonhos, tentando
vencer a tristeza por pontos.
mas você sabe, disseram que diríamos
e nada seria dito, eles acertaram Renan.
e enquanto o amor é só um verbete,
os papéis estão cheios. é preciso, pois,
escrever por cima, rasurar, decalcar.
o belo, meu caro, estava nos rios, 
nas árvores centenárias, na morte,
quando a morte era só a última página.
resista. e nunca se pergunte, jamais,
o que poderia ser pior que isso.



*


​
é bom morrer às vezes,
poder alagar e demorar
o tempo e o peso das coisas.
o copo e seu mar, suas vias
menos ou mais secas. 

ou o caderno entre livros,
tão extenso que as palavras
uma por uma avançam
em silêncio e descaso
contra o tumulto que foi

a vida. porém, todo sonho,
como toda vida, como toda
morte, tem um fim, um charco
sem lírio, sem mal ou bom cheiro,
apenas um terreno cru, inútil  até

para maldizer esta saudade
impressa nas mãos úmidas.
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Três colagens de Inês de Carvalho Eusébio (Colagénio #2)

22/4/2019

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​​Esta coluna pretende estabelecer um diálogo entre a Poesia e as Artes Visuais, recorrendo a técnicas de colagem para a interpretação visual de poemas (ou excertos de poemas) de autores lusófonos. 
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Colagem 1:  
Couto, Mia;  Raiz de Orvalho e Outros Poemas, Lisboa, Editorial Caminho, 2009, p. 13.

Colagem 2:
Torga, Miguel; Poesia Completa I, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2002, p. 390.

Colagem 3:
Faria, Daniel; Poesia,Lisboa, Assírio & Alvim, 2012, p. 62. 
Colagénio
ver perfil de inês de carvalho eusébio
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Dois poemas de Rui Ribeiro

18/4/2019

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Iogurte Diário

Pego na cilíndrica humidade 
Devagar como se faz um filho
Sinto-lhe as feições escorregadias
Destinadas a se amachucarem involuntariamente
Sou um alpinista calculista que sobe só a montanha
Para lhe tirar a neve do cume
 
Faço cuidado para não tocar na lava fria 
Que ao contacto me tornará um criminoso desrespeitado
Pouso paulatinamente o teto sem vida 
Que sem arrependimento separei do abrigo
Sou um estripador faminto
Agora vejo a cova nua e desprotegida

Sou uma besta sem escrúpulos que me definam
Cai a colher desamparada no leito consistente
Perdendo-se vagarosamente de si mesma.
Depois de engolida e mergulhada num sorvedouro próprio
Agarra no que pode (e no que deve) e traz consigo malandros pedaços
Soltos fósseis de validade atingível.

Coloco a boca a jeito do soco iminente 
Sem nunca deixar a mão trémula
Sem dar por isso a minha língua é beijada ao desbarato
Por aquilo que sinto chamar de manhã 
Fresca, leve e impactante  - assim
O guião diz-me que irei sofrer de juras de sabor 
Nos próximos dois ciclos salivares - assim espero

A arma do crime pertence à vítima
Pego de novo no cume que há minutos desmembrei 
Sem remorsos
E faço o curativo possível ao seu todo
Encosto-me infeliz
Afinal foi só mais um que não soube dar luta



*



Se todas as manhãs fossem minhas

Se todas as manhãs fossem minhas
Ai se todas as manhãs fossem minhas
Nunca lhes mudaria o nome 
Seriam manhãs até amanhecer de novo 
Seriam assim carregadas de eternidade

O que leva uma manhã a pensar que tem o direito de acabar
Estão tão enganadas estas manhãs de hoje em dia 
Já não respeitam os conhecedores de auroras não respeitam
Se todas as manhãs fossem minhas
O restante dia e a posterior noite não teriam protagonismo

A manhã não tem elenco
A manhã constrói-se de si própria
Ninguém a representa tão bem quanto ela
Que ninguém sequer pense
Num ato desprovido de inteligência ou emoção

Em acabar com as manhãs
Rasgaria o contrato da minha vida
Se as manhãs não mais nascessem
Dêem-me uma manhã no natal saberei guardá-la
Espero que as manhãs sejam sempre manhãs

Se alguma vez não o forem 
Podem dar o nome de injustos a todos os dias
ver perfil de Rui Ribeiro
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Dois poemas de Estela Rosa

15/4/2019

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O corpo é um território

A palavra portuguesa bairro
tem origem controversa
alguns afirmam derivar de barra
do latim, que significa divisão
outros afirmam derivar de bárri
do árabe, que significa exterior

lugares cercados de terra pensam
em divisões e exteriores
o que vai para fora da terra
o que há para o lado de fora
como dividir espaços e se soltar
uma península agarrada a um continente
com uma palavra que torna todos os seus
pequenos pedaços em exteriores e divisões
soltos
e contraditórios

A aproximação entre os termos
barra e bárri deixa tudo ainda
mais terreno e confuso
se quando dividimos somos
o exterior ou a periferia
de nós mesmos dentro e fora
de uma terra que nos divide
cada vez mais em bairros

isso tudo em português
a língua que minha cabeça
divide e exterioriza aqui
mesmo na sua frente

Na língua tagalog o termo bairro
não existe a língua tagalog é
falada nas Filipinas e não usa
nada parecido com bairro para dissolver
seu território já dissolvido
nas Filipinas o termo usado para
denominar uma divisão administrativa
é Balangay
que significa um tipo de barco

lugares cercados de água pensam
em conexões e interiores
o que vai para dentro da terra
o que há para o lado de dentro
como construir pontes e se prender
um arquipélago solto como um continente
com uma palavra que torna todos os seus
pequenos fragmentos em interiores e conexões
visitados por barcos
e migrações

O termo balangay pode ser abreviado
brgy ou bgy pode ser usado como um pequeno
pedaço de terra que se sente solto e precisa
de um barco para se conectar com outra
parte pendente no mar um único termo
que significa barco e seu interior
carrega a unidade fragmentada
de um arquipélago que dividido
se torna um único

Um corpo é composto
por 60% de água poderia
ser ele um arquipélago
uma ilha, mas também
um continente com suas
partes divididas em bairros
ou então em balangays
mais da metade água
vencendo por pouco
a terra

Uma língua dissipada
em três continentes
Outra em 7107 ilhas
entre bairros ou balangays

Como um corpo em português
poderia nomear seus braços
que não bairros para sempre
invadidos?

Como um corpo em tagalog
poderia nomear seu corpo
que não bangalays para sempre
atravessados?


​
*



Um rojão atado à memória

Minha mãe me contou
que um enxame de abelhas
caiu de dentro do tronco
de uma árvore podre

na infância, distante,
dois eram os meus medos
dois barulhos insuportáveis
a explosão da usina angra I
e o enxame de abelhas africanas

eram parecidos de alguma maneira
não sabia ao certo a grande diferença
entre morrer como o meu primeiro amor
ou morrer como uma criança japonesa

Na minha cabeça a onda
de radiação chegaria junto
às abelhas africanas
aos poucos derretendo
a pele que sorria
imaginando ser
um barulho qualquer

a urgência de escapar
de um enxame de abelhas
é de fato maior
quando ao redor
as árvores apodrecem mais
do que as usinas nucleares

Imaginava a radiação chegando
mais rápido e não em ondas
junto aos movimentos ritmados
das abelhas em enxame
imaginava bastar
esconder esperar passar
infinitos minutos relembrando
as batidas graves do som do rojão
invadindo a pausa para o café

Os ouvidos imaginavam
o ruído da usina caindo
o estalar do tronco podre
tudo aquilo se parecia muito
com tudo explodindo pelos ares e eu
derretendo lentamente
em uma memória esquecida

As abelhas africanas previam
em pavor o desabar da usina
como um tronco oco

E a cada ruído da usina angra I
explodindo eu ansiava pelas abelhas
que viriam antes matar as galinhas
os gatos e os passarinhos
e me salvar

Hoje sei diferenciar
o barulho de um rojão
e acredito nas pesquisas
que dizem ser a energia atômica
uma das mais seguras do mundo

e apesar de fukushima
na serra um tronco oco
e um enxame de abelhas
seguem sendo mais urgentes
do que a radiação da usina angra I

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