A BACANA
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Três poemas inéditos de Tatiana Faia

30/4/2018

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o mistério dos homens adormecidos
 
alguns jazem no plaino abandonado
que a morna brisa aquece
no bolso direito das calças a cigarrilha breve
o peito exposto ao ar os braços cruzados
debaixo da nuca
na vulnerabilidade de um gesto
para lá da farda regimental
do fato e gravata de todos os dias
e depois da poeira sobre os sapatos
a respiração tão regular do corpo
é de repente um acidente da sorte
uma dádiva improvável e oportuna
trazendo de volta a desaceleração do quotidiano
 
alguns nem estão à espera de ver o mundo arder
cumprem os dias como se tudo
o que alguma vez lhes tivesse sido dado viver
fosse um dia só
e apenas uma só versão desse dia existisse
a profundidade existe apenas
quando jazem sem cuidado
ao comprido num sofá num vigésimo segundo andar
num apartamento de vinte cinco metros quadrados
rodeados por um marulhar de barulhos
por todos os lados e sem que o nada os acosse
um leve sorriso cai sobre os lábios
e um cigarro arde no cinzeiro
enquanto eles deslizam pelo aqueronte do sono adentro
sem espadas e sem escudos que lancem a agulha
da resistência ao desconhecido
noite adentro a confiança ou uma promessa
de amantes pode ser algo como isto
 
alguns regam as plantas cinco minutos antes
e desfazem os nós dos atacadores
e tiram ordeiramente os sapatos
e reconhecem até mesmo a proximidade da morte
mesmo agora enquanto comem uma refeição enlatada
 
enquanto me dou conta de que alguns são
ainda até atléticos e musculares e necessários
e mesmo a sua extrema necessidade
alimenta o desejo de todas as coisas
a precisão de alguns instantes quando
rapazes jogam à bola debaixo dos olhares de leões
e as cidades são imponentes e inteligentes e sem perdão
como os aborrecidamente espertos quartetos de mozart
 
alguns fecham os olhos e inadvertidamente
deitam abaixo a última parede do mito
aquela que postulava que a inteligência que permite
ler os dias é uma espera posta à destruição
 
adormecendo alguns entrelaçam as mãos sobre o peito
como guerreiros medievais sepultados em túmulos de pedra
no coração das cidades
e é estelar o seu abandono como um fragmento
de vidro que se ilumina de repente na escuridão do ar
e mergulhados profundamente no sono
intuem a profundidade do azul na obscuridade da noite
as chamas que marcam as amuradas da noite
as coordenadas do sal na pele
para lá das horas em que escreveram
linhas em que declararam conhecer bem o sal
que se cola à pele vinda das orlas de certas praias no atlântico
 
e no entanto alguns persistem e aceleram
para lá do sono em carros que cortam pela noite
demasiado cansados e um pouco decadentes
na fronteira com a extrema incoerência
um pouco para lá do cansaço
para lá do facilmente evidente
 
Nápoles, 8 de Outubro de 2017
 
 antonio gamoneda
 
para os dois Joões, Bosco & Moita
 
ao fim de cinco copos de vinho
eu queria ser um poeta da contenção
daqueles que escrevem poemas de seis linhas
com reviravoltas brutalmente inteligentes
nos últimos quatro versos do enredo
 
mas o que torpor alcoólico não resolve
há-de o mundo esmurrar até
que a voz me arranhe na garganta
até que me doa falar de certas pessoas
de alguns lugares até que o que me dói
seja a mais insignificante mas mais nuclear partícula
da extensa galáxia do meu amor
e com a paz dos que são derrotados pelo cansaço
eu possa por um instante
pousar a mão contra uma têmpora
e dizer avariou-se-me precisamente esta parte
esta parte do corpo onde não entra a presença de espírito
 
mas o corpo é uma peça e um mapa
e a corda de um instrumento que só pode ser
estendida até um ponto máximo de pressão
e este general tem de marcar com os seus alfinetes
que territórios são para ser conquistados
e o que desaparece agora nasce com o sol
e derrama-se num voo a pique sobre a tarde
 
plana ao alto
sem que lhe possa dar um título
que me deixe acreditar que me posso
safar com qualquer coisa
e então eu ia querer dar
a um homem o nome de libro del frío
 
mas não sinto que tenha autoridade
para pensar no medo e na luz
diante dos olhos
na precisa intersecção do medo e da luz
diante das vinhas abrasadas pelo inverno
quando a familiaridade das árvores deixa de existir
e com isso o mundo deixa de ser familiar
 
e há-de haver em alguma destas casas
marcadas para o ano novo e para a páscoa
alguém que como eu não possa amar
nem a desaparição nem a ideia de perda em abstracto
 
mas antes alguns objectos de uma dor digna de confiança
os objectos de uma perda com rosto humano
as pequenas coisas que despontam todos os dias
e trabalham para um ressurgimento
na dicção desajeitada e sem ritmo
 
da percussão de um tambor que viaja
através do ar electrificado
na longa noite de inverno
onde a flor do sono está ainda a arder
e há uma mulher de ombros nus
escondida entre os lençóis
e inventários de pequenos arrependimentos
coligidos em velhas molduras em todas as moradas

Oxford, 29 de Dezembro de 2017
 
 materiais mais pesados
 
nesta cidade os poetas
enchem salas de espectáculo
para ver combates de boxe
alguns de entre nós literatos tentam
fechadas todas as livrarias
apreciar o que isto tem de dança
antes dos rostos no centro do espetáculo
manchados de sangue
 
mas também nós estamos agora
só a contar o tempo
entre os golpes
que vão sendo desferidos na arena
sob o corpo de um atleta cansado
tão cego de raiva
que vai agora investindo
golpe baixo atrás de golpe baixo
contra a fúria do árbitro e dos bêbados na audiência
 
e eu constato que é mesmo necessário
destilar gin para tentar curar por alguns momentos
uma tristeza completamente incurável
há alguns dias estar vivo neste país
é como ser filoctetes a olhar o mar
 
e tu estás num avião
em rota para varsóvia
e o teu luto atravessa
o espaço entre três países
alguns dos teus antepassados
morreram no bombardeamento
da cidade pelos nazis
mas tu voltas para enterrar um amigo
cuja morte foi
parece
inesperada
por únicas testemunhas uma mulher e um cão
e silenciosa com um livro no colo
como adormecer
entre um mundo de postais
e livros esquecidos no chão
e em mesas de cabeceira
 
a tua dor assusta-me
porque não se reconcilia com nada
do muito pouco que sei de ti
é íntimo meu
ao mesmo tempo familiar e desconhecido
debaixo de um candeeiro
o teu rosto sobre o qual caem algumas sombras
eros vai e vem e os seus desenhos
podem ser reconhecidos
em algumas paredes
contra as quais conversámos
mas não aqui nem agora
o que eu te podia dizer
é uma linha que pode remediar um rasgão
mas a costura será a partir
daqui para sempre visível
 
depois de muitos meses de insónia
eu resigno-me a tentar dormir a meio desta tempestade
tentar acertar com o botão de desligar
mas o mundo fechou-se
com toda a força dos pulsos
em redor do torso
 
num país que não é este
num corpo que não é já bem o teu
de tudo o que te rodeia
nada é ao certo o vaso
que contém esta energia
não é certo onde cai a falha
 
no final deste domingo
nas praias
antes que a semana onde se pode
morrer aos poucos de resignação e indiferença se instale
as janelas estão fechadas
e as casas cobertas de fuligem
os meus amigos jantam em casa uns dos outros
dão-me boleia
para me poupar andar dois quarteirões
 
silenciosamente dentro dos livros
a humidade trabalha todo o inverno
abre manchas
entre os versos dos meus poetas favoritos
e durante toda a semana
incessantemente eu trabalho sem amor
a minha actividade uma mancha sobre as horas
fazendo tempo
vestindo e despindo o mesmo casaco
na travessia dos mesmos edifícios
das mesmas ruas dos mesmos rostos indiferentes
bebendo dia após dia
o mesmo café à mesma hora
 
a felicidade é a soma de alguns breves momentos
quase alucinados
entre o quarto e a sala
imóvel na cadeira de baloiço
uma caneta preta bic
que contra a pele de quem adormeceu deste lado
escreveu pensativamente a palavra sauvage
algumas contas e conchas e papéis
que atafulham algumas gavetas
ou reconhecer com um ranger de dentes
com a ternura da embriaguez
que esta mão que se fecha
em redor deste meio copo de cerveja barata
neste bar que em breve vai fechar
não poderá nunca arrastar os ponteiros
uma hora para a frente ou para diante
e não é aquela que com maior certeza
se fecharia sobre um torso de mármore
mas sobre a tua perecível carne perfeitamente
interceptada nesta tarde pela de um amigo morto
e certo é que te distraias e duvides
das cartas que te escrevo
ou que talvez não seja real entre nós qualquer ternura
 
o inverno vai durar mais alguns meses
comparemos certezas
é também certa esta letargia
que é como ser um deus do sono ou da morte
que se passeie pelas ruas com um pequeno caderno
onde vai apontando nomes como um delator  
ou mais um remador que adormeça
à deriva no oceano
perfeitamente só no seu pequeno barco
debaixo das estrelas
os remos depositados ao lado do seu corpo
 
continuamos a pôr o pé fora de casa todos os dias
mas não temos ainda mapas
para caminhar sobre a água
 
Oxford, 14 e 26 de Fevereiro de 2018
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Três poemas e um desenho de Thiago Barbalho

27/4/2018

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I

Quando, entre o sol e a pedra, 
se abre o que existe,
janelas não impedem a luz 
de escrever no chão da sala:
tudo pode deixar de existir
a não ser minha morada.
Clarão, vento sem nome,
por tanto tempo procurei te ouvir.
Agora não tenho mais escolha: 
invento.


II

Porque me chamo sobrevivência
vêm até mim os que padecem.
Aceito, enfrento, escuto, me realizo,
mas de tudo o que invento 
não tem humano que me livre.
Só o vento lambendo minhas dúvidas.
É o medo de saber. 
Se ele não passa
corro pra debaixo das nuvens.
Ao menos o céu é fiel a mim:
imagina e não mostra.
Por gratidão, faço a cerimônia:
chagas nas mãos, tambor no peito,
ordem e poder de cantar um refrão
enquanto definho: 
A beleza é um lembrete, amigos. 
Conforto. Toca. Imagem.
Vim ao mundo lembrar.


III

Sem-nome reage a mim, 
ao meu pavor de ser escolhido a ouvir, 
seja porque o criei
(e então é todo meu),
seja porque ri 
quando me coloco sobre ele.
Real ou minha invenção,
me olha se me olho. 
Seu silêncio está me respondendo.

Imagem
sem título, 2017. 
120 cm x 80 cm - marcador permanente, caneta esferográfica, lápis grafite, óleo em bastão e lápis de cor sobre papel.
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"Simone" [Parte I], de Denise Pereira

25/4/2018

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    Simone. O cabelo desalinhado a revelar-lhe a face. Sobre os seus últimos dias ecoava a melodia de uma tragédia. O mistério que rodeava o desaparecimento da sua irmã, colava-lhe os passos, entorpecia-lhe os movimentos. Desde então caminhava apenas para a encontrar, sempre no sobressalto de ser surpreendida por um cadáver. O sossego da vila adormecida despertava-a. Tornava-a incisiva como uma águia. Havia nela uma certa adoração da tranquilidade, do modo como os seus pensamentos ganhavam forma e tonalidade enquanto abraçados pela quietude. Desde o desaparecimento de Irene, Simone apenas ganhava coragem para sair quando todos os outros se recolhiam aos rituais secretos dos seus lares.
      A polícia tinha iniciado as buscas há um mês. Haviam patrulhado toda a vila e as aldeias vizinhas em busca de Irene. Os seus cães tinham salivado perante os odores reminiscentes da jovem, e corrido avidamente no seu rastro. O resultado fora sempre o mesmo: silêncio e frustração. Simone fazia da sua rotina diária uma caçada. Procurava na densidade opaca do bosque, nos quintais dos vizinhos, junto ao brilho promissor do rio, e na sua cabana onde guardava as tintas. 
     Quando regressou a casa, perdeu o manto de tranquilidade com o qual se escondera durante toda a manhã. A invisibilidade e a segurança que a mantinham intacta foram rapidamente estilhaçadas pelo barulho dos tachos na cozinha. 
      – Encontraste o fantasma da tua irmã? – Perguntou rispidamente a mãe enquanto preparava os ovos para o pequeno-almoço. E sem dar espaço para uma resposta disse: 
       – A tua avó esteve aqui. Diz que não podemos fazer um funeral sem o corpo. Que não é próprio. Disse-me que a tua irmã teve o destino que tanto procurou. Vaguear pela terra sem corpo e sem rosto. É o que Deus reserva para os egoístas. A vizinha da frente esteve aqui a prestar condolências – disse, deixando escapar uma gargalhada enraivecida enquanto batia violentamente os ovos – Sei bem o que ela aqui veio fazer. É o que todos querem fazer. Acusar-me de ser uma péssima mãe. Só isso.   
       Sem possibilidade de resposta, Simone dirigiu-se para a entrada e foi pendurar o casaco e o cachecol no cabide, afastando-se assim da realidade que se lhe impunha. A mãe, pressentido esse desejo de libertação, apareceu a espreitar da porta da cozinha.
       – E viste a D. Antónia? Certamente ela e o marido andam por aí em buscas. Era o melhor que lhes podia acontecer. Encontrar a tua irmã. Aí é que haviam de me infernizar para o resto da vida. Aquilo são uns intriguistas, têm uma língua comprida, como o diabo!
        Simone aceitou passivamente um pedaço da omelete, à qual juntou algumas fatias de pão, e mansamente levou o prato para o quarto tentando insinuar um refúgio. Ao longe as palavras da mãe oscilavam entre montanhas e vales, espalhavam-se pungentes pela casa, violavam o ritmo da sua respiração assustada.

∞

          Irene fora breve e assustadora como um relâmpago. Costumava sair muitas vezes sozinha. Fazia-o em segredo, saindo de madrugada ou no início da manhã enquanto todos dormiam. Nunca conseguia chegar longe, era sempre surpreendida a meio do caminho, quer pela mãe ou pela irmã. A mãe dormia como os peixes – costumava dizer Simone – conservando os olhos bem abertos. Qualquer barulho a despertava, e, nos últimos dias antes do desaparecimento de Irene, ela decidira ir dormir para o seu quarto. 
         Nesses passeios solitários, Irene entregava-se a diálogos internos que cantava a cada passada. As melodias iam-se sobrepondo, compondo, evoluindo. Ninguém entendia a quem cantava. Simone sempre ouvira as vizinhas dizer que ela cantava para o diabo. E na sua cabeça Simone gritava: – Para o diabo com as malditas vizinhas!
       Estas caminhadas eram censuradas pela sua mãe. Quando a apanhava, a mãe perdia o controlo, e em raiva crua cuspia todas as suas emoções sobre ela. Batia-lhe cegamente com a violência de um tornado enfurecido. E também gritava. Como gritava! Geralmente culpava Irene de quase tudo. As suas caminhadas solitárias justificavam a suposta hostilidade e críticas por parte dos vizinhos, constituíam o motivo para o seu cansaço que a impedia de trabalhar na fábrica, e eram a razão pela qual o pai as havia abandonado.
         Irene não tinha memórias do pai. Não sabia qual era o seu cheiro, nem qual era a cor do seu cabelo, ou que padrões compunham a sua voz. Simone era muito pequena quando o Pai deixara de aparecer em casa, mas lembrava-se que Irene já tinha nascido no momento em que isso acontecera. Para Simone, o pai era um conjunto de gritos da mãe, e um ritual de objectos atirados contra a passividade arrogante de quem se sente em controlo. Hoje ela sabia que a sua presença se intensificara na ausência. Recordava-o como alguém que dominara a família através do abandono.
         Pouco depois de Simone ter adormecido no sofá, enquanto lia, a campainha tocou. Libertou-a da torrente de pensamentos que se abatia sobre si e que parecia afogá-la lentamente. Ainda estava a abrir os olhos enquanto procurava decifrar algumas das ideias que a tinham atormentado, quando Pedro entrou na sala acompanhado pela sua mãe.
       – Está aqui o Pedro para te ver – disse a mãe enquanto esboçava um sorriso, e proferia as primeiras palavras simpáticas do dia.
         – Sim. Obrigada. Tinha adormecido. Senta-te – afirmou Simone.
          Pedro sentou-se e abraçou-a. Simone recebeu o abraço com apatia. 
       – Como estás? Há alguma notícia da tua irmã? - Inquiriu Pedro com afecto e preocupação.
       – Não, ninguém sabe de nada. Só eu transporto um peso que me transmite a sensação de saber tudo – respondeu Simone, com uma amargura que Pedro lhe desconhecia.
         – O que queres dizer com isso, meu amor?
         – Desculpa, estou cansada. É apenas isso. Tenho de voltar para a cabana e acabar de tingir os vestidos que a minha mãe fez. Se quiseres podes acompanhar-me.
        Pedro levantou-se e esperou que Simone fosse vestir o casaco e buscar os vestidos. Quando partiram, ele voluntariou-se para transportar o cesto, e esperançosamente ofereceu-lhe o apoio do seu braço. Simone aceitou-o com a indiferença de uma recusa. 

∞

        As tintas que borbulhavam nos baldes de madeira tinham sido sempre um motivo de fascínio para Irene. Havia algo mágico na transformação sofrida pelos tecidos claros quando mergulhados na tinta. A cor negra das tintas adquiria diferentes tonalidades em diferentes tecidos, conferindo uma sensação de suspense e surpresa a todo o processo. A somar-se ao encanto deste ritual de metamorfose havia também o fascínio provocado pelo medo e pela proibição. 
       A mãe de Irene, conhecendo a curiosidade que a filha nutria por este processo, a par da grande toxicidade das tintas, evitava ao máximo que esta pudesse estar presente quando Simone tingia os vestidos. Havia algo de imprevisível e pavoroso nas acções de Irene. Todo o cuidado era pouco.
      Irene transportava em si um desejo secreto de saber que cor surgiria quando mergulhasse o seu corpo no balde de tinta. Uma vontade imperativa de conhecer a sua essência e a sua individualidade. Seria possível alterar a cor resultante, se entoasse diferentes melodias enquanto tingia a sua pele? Poderia cobrir-se de tinta e correr livre pelos campos, exibindo o seu verdadeiro eu ao universo e depois mergulhar no rio. Entrar no rio e ver-se despojada de si mesma, sentir-se leve, difundindo-se pela água, tornando-se alimento dos peixes e das árvores. Pertencer, finalmente, pertencer! 
        Naturalmente, Irene concebera um plano para visitar a cabana e recitava-o todas as noites para si mesma em segredo. E o amanhecer em que o iria pôr em prática aproximava-se.

∞
 
Pedro era um rapaz invulgar. O seu silêncio era uma presença constante e forte, mesmo quando passeava acompanhado. Apreciava muito a solidão e a carpintaria. Esta última, constituía a sua identidade, a sua medula, a sua raiz. 
Sofrera um violento acidente enquanto criança, e como consequência, uma das suas pernas nunca recuperara totalmente. Embora o fizesse com um enorme esforço, Pedro continuava a caminhar para provar a si mesmo que o acidente não o incapacitara. A carpintaria, com a possibilidade de criar estruturas que se faziam valer por si, equilibrando-se e equilibrando outros, conferia-lhe um poder que havia abandonado o seu corpo desde cedo.
       Simone apreciava a sua companhia. A sua resiliência tranquilizava-a. O seu defeito – tão visível – amaciava-lhe as ansiedades. O seu silêncio, abraçava-a e trazia-a a si mesma. Nunca houvera esse espaço em casa. A mãe, sempre em monólogos queixosos ou afirmativos, quebrara todas as barreiras, e devorara o seu corpo, as suas ideias e as suas fantasias. Simone tornara-se num corpo em ebulição, no qual ecoavam palavras e medos que não lhe pertenciam, mas que eram as suas fundações e os seus alicerces. 
– Nunca caminhes descalça sobre as lágrimas dos outros. Os seus medos e angústias podem enraizar e ascender dentro de ti.
Simone conservara fresca a memória desta frase, proferida há muitos anos por uma vizinha estrangeira que habitara a aldeia. Nunca soubera a sua nacionalidade. Ninguém sabia. Permanecera um mistério bem guardado por alguém que se encontrava em permanente fuga.

∞
            A cabana onde Simone tingia os vestidos não ficava longe de casa. Se os passos fossem rápidos e decididos, a caminhada demorava uns vinte minutos. Esta cabana encontrava-se junto às ruínas de uma velha casa, outrora habitada pelo tio de Simone, José, que falecera pouco depois de ela nascer. Sabia o quão a sua mãe sofrera com essa perda. José era o seu único irmão, e possivelmente tinha sido o seu único amigo. Nunca casara, nunca tivera filhos, e dizia-se na aldeia que nunca conhecera o amor de uma mulher. 
            Após a sua morte a casa ficara ao abandono. A sua irmã, devorada pela dor, recusara regressar àquela casa, e a avó de Simone cortara relações com José quando este era já adulto, recusando-se desde então a pronunciar o seu nome. Ninguém sabia o que acontecera, mas muitas especulações adquiriram o estatuto de verdade com o passar do tempo. Durante os primeiros anos, a casa foi vandalizada e pilhada. Depois, seguiu-se a devastação e a erosão perpetradas pela natureza. Os banhos de chuva e os rodopios do vento conferiram às paredes toda uma imensidão de formas de vida. O calor seco do verão levou consigo as cores, e um incêndio incontrolado derreteu para sempre os mistérios de uma vida solitária. 
            Simone ofertara humanidade àquele espaço. Com Pedro, construíra a cabana, no que antigamente fora o pequeno quintal da casa. E tinha sido esse projecto que os aproximara, que os convertera a um amor até então nunca encenado por nenhum dos membros das suas famílias. Tudo se criara de um primordial nada. Esse nada era composto por letras de canções ouvidas na rádio, e de frases escutadas a alguém ou lidas nas páginas dos livros e revistas. O amor era uma fantasia que eles teciam em conjunto, desconhecendo em absoluto o que os esperava no remate da última linha.
        A cabana era o ganha-pão da família. Era nela que Simone preparava e armazenava as tintas com que tingia as roupas que a mãe e a avó costuravam. A proximidade do rio atraíra-a a construir a cabana na propriedade do tio. Nas suas redondezas, Simone e Pedro haviam criado uma pequena horta onde semeavam as plantas tintureiras.
            O amor de Simone e Pedro era um amor de conveniência. Não porque partisse de um interesse exterior ao afecto, mas sim porque a paixão de ambos convinha às suas identidades e aos seus actos de criação. Teciam a fantasia em conjunto, e em conjunto concebiam um modo de vida.
                                                 
       ∞
​
            Simone. Abandonava a vida ao ritmo das buscas. Tudo tinha parado naquela madrugada. Iam-se esbatendo as imagens do sorriso doce de Irene quando ela lhe fazia cócegas na barriga. Um sorriso que se transformava lentamente em sufoco. Uma pele pálida escurecendo nas profundezas do rio. Um corpo aberto entornando vísceras frescas.
            Simone acordava em mais um dia frustrado pela ausência do corpo. Sempre as mesmas questões colocadas pelos mesmos polícias. As mesmas mãos pousadas de forma condescendente nos mesmos ombros. Dia após dia. Semana após semana. A asfixiante persistência da ausência.
           A última noite de Irene. O fumegante guisado com ervilhas a aguardar os pratos. A mãe em constante confronto com a teimosia da filha mais nova: 
            
          – Não queres falar? A professora chamou-me novamente à escola. Que vergonha. Porque é que não podes ser normal como os outros meninos? Tu sabes falar! Eu sei que sabes falar e cantar, porque estás sempre a fazê-lo quando estás sozinha! Tens de responder quando a professora pergunta alguma coisa. Ouviste?! Não me vires as costas. Ai, que mal fiz eu a Deus para merecer isto? Foi por isso que o teu pai se foi embora. Ter de reconhecer a paternidade de uma filha anormal. De uma filha idiota! Idiota! Ouviste?
         Entre Simone e Irene existia uma cumplicidade imune às palavras. A comunicação entre ambas resultava de uma sintonia profunda, que não se deixava afectar por qualquer designação clínica de incapacidade. Irene conhecia a palavra e abraçava o som, contudo não conversava com os outros. Apenas consigo mesma, na forma de canções entoadas em movimento. Curioso mundo – pensava Simone – no qual o monólogo apenas era considerado normal quando despejado em cima de outro ser humano, fosse na forma de sermão ou mascarado de diálogo. 
Ao ouvir as palavras ásperas da mãe, Irene permanecia direita como um mastro. Não chorava. Não tremia. Não mudava a expressão da face. Por outro lado, Simone tinha de abandonar a cena para poder abafar o choro contra a almofada. E nessa tentativa de repressão, forçava-se a não odiar a figura materna. Sim, tinham muita sorte por a mãe não as ter abandonado também. Sim, eram de facto privilegiadas. Sim. 




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"Ireen" de Miguel Cruz

19/4/2018

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